Título: Crise traz novos riscos para a economia global, diz FMI
Autor: Balthazar , Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 09/04/2008, Finanças, p. C5

O diretor Jaime Caruana: "Não se deve subestimar as interações entre a correção dos preços nos mercados financeiros e o enfraquecimento da economia" A doença que contaminou o coração do sistema financeiro mundial espalhou-se rapidamente para mercados que pareciam isolados no começo da crise e criou novos riscos para a estabilidade dos bancos e da economia global, segundo relatório divulgado ontem pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).

Os economistas da instituição estimam que as perdas provocadas pela crise iniciada com os problemas no mercado imobiliário americano poderão atingir US$ 945 bilhões antes que a situação volte a se normalizar. Os bancos atingidos pela turbulência contabilizaram US$ 193 bilhões em prejuízos até agora.

A inadimplência nas hipotecas residenciais nos Estados Unidos continuará sendo a principal fonte de preocupações para o setor financeiro. Ela é a origem de US$ 565 bilhões das perdas previstas pelo FMI. Muitos empréstimos contratados nos últimos anos em condições favoráveis terão suas taxas de juros reajustadas para cima de forma acentuada nos próximos meses.

Empréstimos para construção de prédios comerciais começam a exibir fragilidades semelhantes às encontradas nas hipotecas residenciais e podem provocar perdas de até US$ 240 bilhões, diz o Fundo. Ele espera prejuízos de US$ 120 bilhões nos mercados de crédito corporativo, onde companhias muito endividadas começaram a ter dificuldades.

Na avaliação do FMI, a provável recessão nos EUA e a desaceleração da economia global tendem a piorar a situação. A crise poderá afetar a capacidade que muitas empresas têm de pagar suas dívidas, o que alimentará novas pressões sobre os bancos antes que eles tenham condições de se recuperar do tombo que levaram nos últimos meses.

"Não se deve subestimar as interações entre a correção dos preços nos mercados financeiros e o enfraquecimento da economia", disse o diretor do departamento do Fundo que monitora os mercados de capitais, Jaime Caruana, ao divulgar o relatório. O FMI baixou de 4,8% para 3,7% sua projeção para o crescimento da economia mundial neste ano.

O cenário sombrio descrito pelo Fundo é bem diferente da avaliação otimista que ele fez no início da crise. Em abril do ano passado, numa edição anterior do seu relatório semestral sobre a saúde do sistema financeiro internacional, o FMI afirmou que os problemas com as hipotecas não pareciam representar uma "ameaça sistêmica séria".

A avaliação do Fundo também contrasta com a opinião dominante no mercado financeiro. Apesar das incertezas sobre a economia real, muitos analistas acham que o pior da tormenta financeira ficou para trás depois que o Federal Reserve, banco central americano, entrou em ação para tranqüilizar os investidores e organizar o resgate do banco de investimentos Bear Stearns.

De acordo com o relatório do FMI, mais da metade das perdas provocadas pela crise estão concentradas nos grandes bancos americanos e europeus que estão no centro da tempestade. O resto do prejuízo deverá ser dividido por seguradoras, fundos de investimento e outras instituições financeiras que fizeram apostas arriscadas antes da contração dos mercados de crédito.

Para o FMI, os bancos americanos e europeus precisarão encontrar novas fontes de capital para se manter na superfície nos próximos meses. Além dos US$ 193 bilhões anotados nos livros dessas instituições desde o início da crise, o FMI calcula que os bancos ainda terão que contabilizar US$ 95 bilhões em perdas.

Isso significa que eles precisarão separar porções maiores de capital para continuar enquadrados nas normas de prudência que regulam o setor bancário. Desde novembro do ano passado, os bancos mais atingidos pela crise atraíram US$ 105 bilhões em dinheiro novo, incluindo US$ 41 bilhões de fundos de investimento controlados por governos de países asiáticos e produtores de petróleo.

O relatório do FMI está disponível em www.imf.org/External/Pubs/FT/GFSR/2008/01/index.htm