Título: PMDB corteja Aécio para voltar à legenda
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 10/04/2008, Política, p. A8

O governador de Minas, Aécio Neves, filiado ao PSDB mas flertando com o PMDB, esteve ontem no Congresso para prestigiar o painel de fotos históricas montado na liderança pemedebista da Câmara, em comemoração aos 42 anos da legenda. Ouviu pedidos de "Volta, Aécio"!. Mais de uma vez, o tucano lembrou que o PMDB foi seu primeiro partido político -, riu com as brincadeiras do líder da bancada na Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) - "Eu estou me segurando, poderia colocar uma ficha de filiação em seu bolso, discretamente, mas não o fiz" - e seguiu o roteiro de sempre, definido por um pemedebista mineiro: não fechou nenhuma porta. "Não vejo como, num futuro muito próximo, não estarmos juntos novamente em um projeto de país, independente de filiações partidárias", ressaltou o neto de Tancredo Neves.

Para não ferir suscetibilidades, antes de comparecer à festa pemedebista, Aécio fez questão de visitar a liderança do PSDB na Câmara, salinha que ocupou no período de 1997 a 2001, antes de ser eleito presidente da Casa. "Minha trajetória política começou aqui, com a ajuda de muitas pessoas que aqui estão". Pouco depois, o governador declarou que, apesar de ser tucano, e sentir-se muito à vontade na legenda, não escondia que tinha amigos no PMDB. "O resto, é especulação", insinuou.

O governador mineiro participou de dois atos na noite de ontem (hoje encontra-se com o vice-presidente, José Alencar). Na Câmara, o convite foi feito pelo líder Henrique Alves: "Eu liguei para ele, Aécio estava de chuteira, se preparando para jogar futebol com antigos jogadores, como Luizinho, do Atlético. Eu disse: deixe o bico e a plumagem tucana em Belo Horizonte e venha a Brasília, como neto do nosso grande Tancredo Neves". O segundo ato da noite foi um jantar na casa do senador Wellington Salgado (PMDB-MG), com a presença das principais lideranças partidárias, do ministro das Comunicações, Hélio Costa (autor do convite) e de uma parte da bancada de deputados estaduais de Minas. "Eu recebi um convite do ministro Hélio Costa e bons mineiros não recusam convites dessa natureza", brincou Aécio.

Havia a previsão de boicote de alguns pemedebistas da assembléia mineira ao acordo comandado por Aécio nas eleições municipais. Eles não concordaram com a condução da aliança firmada entre Aécio e o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel (PT), para apoiar Márcio Lacerda na sucessão do petista. Reclamaram que ele excluiu a legenda do debate - a mesma queixa de Hélio Costa. Assessores do partido lembram que o PMDB participou do primeiro governo Aécio, mas quando o tucano partiu para a reeleição, optou por aproximar-se mais do PT.

Para reconstruir os caminhos, o presidente nacional do PMDB, Michel Temer (SP) ligou para Aécio e pediu que ele conversasse com Hélio Costa. "O Aécio é um mineiro extremamente jeitoso, sabe que, para sair de Minas - o que ele pretende fazer em 2010, rumo à Presidência - precisa conversar com as principais lideranças mineiras, como o ministro Hélio Costa", declarou o anfitrião do jantar, Wellington Salgado, suplente do ministro das Comunicações.

Aécio agradeceu especialmente ao senador José Sarney, presente ao evento, por ter sido leal "aos compromissos assumidos de redemocratização por Tancredo Neves". Henrique Alves espera que "Aécio consiga realizar o sonho que não foi atingido por Tancredo: chegar à Presidência".