Título: Tidos como vilões, fundos soberanos ganham simpatia ao socorrer bancos
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 14/04/2008, Especial, p. A16

Esforços da comunidade internacional para conter o avanço dos fundos de investimento criados por países emergentes para adquirir ativos no exterior ganharam impulso nos últimos meses, mas o tom da conversa com os governos que administram esses fundos ficou mais ameno de uns tempos para cá.

Conhecidos como fundos de riqueza soberana, esses veículos começaram a chamar atenção no ano passado. Políticos nos Estados Unidos e em outros países avançados passaram a ver suas ações como ameaças à segurança nacional e tentativas de governos estrangeiros de controlar setores estratégicos da economia.

Nos últimos meses, eles passaram a ser vistos com outros olhos, e por uma razão simples. Alguns desses fundos desempenharam um papel decisivo no processo de capitalização de grandes bancos americanos e europeus que perderam fortunas com suas apostas no mercado imobiliário americano e outros investimentos descuidados.

"Esses fundos são atores sofisticados e nenhum deles se comportou mal até agora", disse ao Valor Adnan Mazarei, diretor-assistente do departamento do Fundo Monetário Internacional (FMI) que monitora os fundos soberanos. "Muitos países temem que pressões exageradas sobre esses fundos se voltem contra eles mesmos, criando barreiras aos fluxos de capital."

Segundo o mais recente relatório do FMI sobre a estabilidade do sistema financeiro internacional, fundos controlados por países asiáticos e produtores de petróleo contribuíram com US$ 41 bilhões dos US$ 105 bilhões captados nos últimos meses por bancos que precisaram se capitalizar para enfrentar os efeitos da turbulência nos mercados.

O FMI, o Tesouro dos Estados Unidos e grupos como a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) estão trabalhando para criar regras que tornem a gestão desses fundos mais transparente e os obriguem a divulgar informações mais detalhadas sobre as suas estratégias de investimento e os ativos que eles controlam.

O FMI publicou recentemente um relatório com algumas sugestões e promete apresentar uma proposta mais objetiva em seis meses. Segundo Mazarei, em geral os fundos resistem a divulgar informações por temer que suas estratégias de investimento sejam prejudicadas se outros participantes do mercado tiverem um conhecimento mais aprofundado das suas intenções.

Algumas coisas começaram a mudar antes mesmo que grupos como o conduzido pelo FMI concluam seu trabalho. Alguns fundos passaram a publicar informações um pouco mais detalhadas e o Tesouro dos EUA definiu um conjunto de princípios para a atuação desses fundos em comum acordo com três deles, administrados por Cingapura e pelos Emirados Árabes Unidos.

Os 44 fundos soberanos em atividade atualmente administram cerca de US$ 3 trilhões em ativos, segundo o Instituto Peterson para a Economia Internacional, um centro de estudos. Muitos países que manifestaram no ano passado interesse em lançar veículos desse tipo para diversificar a aplicação de suas reservas puseram a idéia de lado recentemente por causa da crise nos mercados, segundo Mazarei.

O Brasil pensou em lançar um fundo desse tipo no ano passado mas a idéia provocou várias divergências entre o Ministério da Fazenda, o Banco Central e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Eles nunca se entenderam direito sobre a composição do fundo, seus objetivos e a melhor maneira de administrá-lo, e o projeto acabou engavetado. (RB)