Título: Brasil admite aumentar pagamento por energia
Autor: Leo , Sergio ; Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 23/04/2008, Internacional, p. A9

O governo brasileiro busca um modo de aumentar os recursos recebidos pelo Paraguai pela geração de energia da hidrelétrica de Itaipu, sem afetar os termos do tratado firmado entre os dois países, que, em seu anexo C, estabelece critérios para a fixação do preço e determina que um país venda ao outro, por uma fórmula pré-definida, a eletricidade não usada para consumo próprio. Para atender aos paraguaios, o Brasil aceita até rever contratos relativos à usina, desde que sejam mantidos os termos do tratado de Itaipu.

Essa é a posição oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, transmitida por ele, segundo um ministro, ao conselho político do governo. Segundo um assessor, o Planalto sabe que qualquer concessão ao Paraguai deve causar críticas no Brasil, e, por isso, o governo não anunciará nenhuma proposta sem a garantia de que será bem recebida pelos paraguaios, encerrando divergências entre os dois governos sobre a remuneração justa para o país vizinho.

Lula conversou por telefone ontem com o presidente eleito do Paraguai, Fernando Lugo, que fez da revisão das tarifas pagas pelo Brasil um dos principais temas de campanha. A pedido do paraguaio, eles devem se reunir para conversas antes da posse, marcada para 15 de fevereiro. Em março, ao recebê-lo, Lula prometeu criar uma "mesa de diálogo", para discutir as reivindicações sobre Itaipu.

O tom das conversas, a começar pelo ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, indica que o governo admite até um aumento no preço da energia fornecida ao Brasil, se o impacto não foi demasiado e não houver contradição com os termos do tratado, que é detalhado no modelo de fixação do custo da eletricidade vendida pela binacional aos dois países.

No governo, procuram-se, porém, alternativas para elevar recursos disponíveis para o Paraguai, como a proposta noticiada ontem pelo Valor, de antecipação da venda de energia a partir de 2023, quando devem ser renegociadas as condições de fornecimento e venda da energia aos dois países.

O governo vê, ainda, como alternativas, o oferecimento para financiamento de construção de linhas de transmissão e outras usinas hidrelétricas no Paraguai.