Título: Inflação tira fôlego da evolução dos salários
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 25/04/2008, Brasil, p. A3

O rendimento médio real dos trabalhadores apresentou decréscimo em março - conseqüência de ganhos salariais reais mais tímidos - , fato que é apontado por analistas como um sinalizador de desaceleração no crescimento da economia doméstica. De acordo com levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o rendimento médio real habitual dos ocupados registrou recuo de 0,6% em março, na relação a fevereiro, para R$ 1.188,90. Em comparação com o mesmo intervalo de 2007, houve elevação de 2%.

No acumulado de 12 meses, a massa de rendimentos dos trabalhadores estimada em março também se desacelerou. Após três meses consecutivos de crescimento de 5,3%, o indicador apresentou recuo de 0,1 ponto percentual, atingindo um valor estimado de R$ 25,537 bilhões.

A massa real de rendimentos se desacelera há alguns meses devido à pressão inflacionária mais forte e ao crescimento menos vigoroso no rendimento nominal - o que, para Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, pode já ser um sinal de desaceleração natural do crescimento da economia após a expansão verificada no fim de 2007. O economista projeta para o ano crescimento de 4,3% na massa real, com expansão do rendimento médio real de 1,4% (deflacionado pelo INPC) e de 2,9% na ocupação. "A situação da renda ainda é favorável, mas com uma clara desaceleração na margem, o que é positivo para os objetivos do Banco Central de controlar a demanda."

Na comparação regional, houve desaceleração no aumento da massa real em Recife, Salvador, Belo Horizonte e São Paulo no acumulado de 12 meses, comparados com os 12 meses encerrados em março de 2007. Duas praças registraram crescimento da renda, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Vale observou que a aceleração nessas regiões está relacionada à melhora da demanda doméstica, que reavivou as indústrias de calçados, têxtil e vestuário no Rio Grande do Sul, e estimulou a expansão dos setores químico e petroquímico no Rio de Janeiro. Considerando apenas o rendimento do mês, houve retração na renda em Recife (4,3%), Salvador (3,1%) e São Paulo (1,9%) e estabilidade em Porto Alegre, em comparação com fevereiro.

Para Júlio Gomes de Almeida, consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), um dado ainda não condiz com a expectativa de desaceleração, que foi o crescimento do faturamento real de supermercados no primeiro trimestre, apontado em 10,26% pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras). "Temos que esperar o dado do varejo para identificar um movimento de desaceleração", avaliou.

Para o economista, um aumento do rendimento médio real na faixa de 2,5% ao mês seria suficiente para manter o ritmo de crescimento da economia sem risco de pressão de demanda. "Em março esse aumento foi de 2%. Somado ao aumento da ocupação em 3,5%, o incremento da massa real fica em 5,5%, que é um bom padrão para o resto do ano", disse Almeida.

Fábio Romão, economista da LCA Consultores, considera um crescimento na massa real de até 6% ao ano positiva para a economia e sem riscos inflacionários. Carlos Henrique Corseuil, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), considerou a desaceleração observada em março pouco expressiva e ponderou que o primeiro trimestre geralmente apresenta um nível de atividade econômica mais baixo que em outros meses do ano. "O desemprego não ter subido já é algo que pode ser considerado um ganho."

Em março, a taxa de desocupação ficou em 8,6%, o menor patamar para o terceiro mês do ano desde o início da série histórica, em 2002. O resultado ficou abaixo dos 8,7% registrados em fevereiro. A população ocupada subiu 0,6% em relação a fevereiro, com uma entrada de 122 mil pessoas no mercado. No total, a população ocupada ficou em 21,282 milhões de pessoas.

Para os analistas, o aumento das contratações com carteira assinada surpreendeu. A ocupação formal acumula 6,7% de expansão em 12 meses, enquanto a informal acumula queda de 3%. Em março, o nível de formalização do emprego atingiu o maior patamar desde 2002, de 51,6% da população ocupada, acima do recorde anterior, de 51,5%, registrado em fevereiro. (*Valor Online)