Título: Empresas tentam compensar custos com produtividade
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Fonte: Valor Econômico, 07/05/2008, Especial, p. A14

O aumento das commodities internacionais (petróleo, nafta, aço, cobre, entre outras) estão pressionando os custos de produção, mas os empresários de diferentes segmentos relatam que as indústrias buscam aumentos de produtividade para absorver a elevação de custos e evitar - ou minimizar - o repasse ao consumidor final.

Com a subida contínua do preço do petróleo, principal matéria prima da Braskem, e com a valorização cambial, Carnaúba diz que as margens estão ficando muito apertadas. Ele conta que a maior parte dos contratos são de longo prazo e os preços já foram fechados há algum tempo, o que impede eventuais reajustes por conta de pressão de preços dos insumos.

Embora esteja intimamente ligado ao ramo automobilístico, a Bridgestone, produtora de pneus, está perdendo faturamento, conta Raul Viana, diretor de assuntos corporativos. A produção da unidade da Bahia atingiu plena capacidade (8 mil pneus por dia) e a fábrica de Santo André, que hoje opera seis vezes por semana, em breve passará a operar durante sete dias na semana. "Em volume não estamos mal, o problema é quando olhamos os dados de faturamento", diz Viana. O petróleo, insumo essencial nesta atividade, pressiona os custos e a valorização do real em relação ao dólar dificulta a exportação e aumenta a concorrência com importados no Brasil. "E ainda há a concorrência desleal de alguns países asiáticos."

Por conta da alta do barril do petróleo, a nafta (usada na produção de polietileno) já subiu 14% desde o início deste ano e bateu recorde de cotação, mas o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Embalagens Flexíveis (Abief), Rogério Mani, diz que o repasse de preço tem sido lento.

No mesmo segmento, a Finoplastic, média fabricante de sacolas plásticas de Guarulhos (SP), registrou alta de 2% no faturamento em abril em relação a março, mas prevê que fechará o ano sem elevação de vendas sobre 2007. Um dos motivos é a concorrência com os grandes fabricantes, que não repassam integralmente a alta de preço na matéria-prima, diz o presidente da empresa, José Roberto Lapetina. "Estamos sentindo forte pressão do preço do petróleo. E isso se reflete no preço do nosso produto final", afirma Lapetina, cuja empresa produz anualmente 1,5 mil toneladas de sacolas plásticas.

O presidente do Sindicato das Indústrias Cerâmicas de Criciúma e Região (Sindiceram-SC), Otmar Müller, relata pressão de custos no setor. Em fevereiro, o gás natural subiu 6% e outros reajustes devem vir em maio. Além de mais 2% no gás, o setor recebeu pedido de aumento - entre 8% e 10% - das empresas de transporte por conta do diesel e de aumento salarial.

Müller diz que as indústrias já repassaram parte da pressão de custos ao preço: 1,25% entre fevereiro e abril deste ano e mais 0,8% deverá ser repassado em maio. Ele avalia, porém, que não há condições de repasses integrais por conta da maior competitividade no mercado interno pela dificuldade de exportação do setor.

O presidente da Associação Sul Brasileira da Indústria de Cerâmica para Revestimento (Asulcer), Cláudio Ávila, diz que abril foi um mês de boas vendas, seguindo tendência do primeiro trimestre, e também destaca a pressão de aumento de custos nas empresas de transportes e acredita que poderá haver dificuldade de repasse aos preços para o lojista. "O mercado interno está comprador, mas não a ponto de absorver nossos custos".

O presidente da A.Grings, Paulo Grings, fabricante de calçados femininos da marca Piccadilly, prevê uma alta de 12% a 15% neste ano em comparação com os 7 milhões de pares fabricados no ano passado, mesmo com os aumentos de custos e, conseqüentemente, de preços que devem ocorrer no segundo semestre. "Há bastante pressão dos fornecedores, embora não por reajustes muito altos", comentou o empresário. Segundo ele, a sinalização é de que insumos como solados, produtos químicos e embalagens vão subir de 5% a 6% e pelo menos parte disto terá que ser repassado aos produtos finais.

Luciano Ferrari, gerente comercial da Coopershoes, fabricante gaúcha de calçados, diz que a empresa deve aplicar algum reajuste de preços no segundo semestre, mas ainda não há definição sobre índices.