Título: Captações de US$ 3,2 bi nesta semana
Autor: Lucchesi , Cristiane Perini
Fonte: Valor Econômico, 09/05/2008, Finanças, p. C3

Gelbaum, diretor-executivo financeiro e da área internacional do BMG: "Os ventos estão realmente favoráveis e o banco sempre costuma se mover rapidamente" Empresas como a Gerdau e o Frigorífico Independência e bancos como o BMG foram rápidos e saíram às pressas para aproveitar a janela de oportunidade aberta no mercado externo de renda fixa após o grau de investimento dado dado ao Brasil pela Standard & Poor's, no dia 30. A captação bem-sucedida do Tesouro Nacional fechada anteontem ajudou, deixando demanda de mais de US$ 3 bilhões por títulos do Brasil não atendida. No total, já foram anunciados US$ 3,2 bilhões em captações externas nesta semana e mais está por vir.

Os bancos médios, que precisam de recursos para fazer frente à expansão do crédito no Brasil, são importantes candidatos a lançar papéis no exterior. Segundo o mercado, o Banco Pine, o Banco Daycoval e o Banco Panamericano estariam em fase final da preparação de captação externa por meio de eurobônus.

Ontem, foi a vez da Gerdau reabrir em US$ 500 milhões a emissão de seus papéis de vencimento em outubro de 2017 e de cupom (juro nominal) de 7,25% ao ano. A emissão inicial, feita em outubro do ano passado, no total de US$ 1 bilhão, tinha rendimento de 7,375% ao ano. A de ontem fechou com rendimento de 6,875% ao ano, exatos 50 pontos básicos a menos e 309 pontos básicos acima dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos, mas com valor abaixo do US$ 1 bilhão autorizado.

O total da demanda dos investidores foi de US$ 1,2 bilhão, mas a empresa optou por captar US$ 500 milhões para pagar um juro mais apertado, disse Alexei Remizov, responsável pela área de mercado de capitais do HSBC, que, junto com o JPMorgan e o ABN AMRO, liderou a operação. "Trata-se de uma reabertura de um bônus existente e reaberturas tendem a ser menores do que a emissão inicial", diz.

Segundo a empresa informou, os recursos serão usados para pagar um empréstimo-ponte tomado para a compra da americana Quanex. Em abril, a Gerdau completou a aquisição e pagou um total de US$ 1,46 bilhão, além de assumir as dívidas da Quanex.

O Frigorífico Independência conseguiu ampliar em US$ 50 milhões sua captação externa prevista inicialmente para chegar a US$ 250 milhões. Emitiu US$ 300 milhões em papéis de vencimento em sete anos pagando rendimento de 10,125% ao ano, considerado alto por alguns investidores, mas abaixo dos 10,25% inicialmente sugeridos. O cupom foi de 9,875% ao ano.

Já o banco médio BMG pretende se antecipar aos seus pares e vender na semana que vem títulos de vencimento em três anos de valor indicativo de US$ 150 milhões, sob a liderança da butique americana especializada em títulos de renda fixa BCP Securities e do suíço UBS, com o português BES como co-líder. Isso significa um alongamento de prazos em relação à ultima emissão de março, de dois anos. O rendimento sugerido ao investidor é de 7,375% ao ano, na comparação com os 7% de março.

"Tem muita gente preparando emissão", diz Samy Podlubny, diretor da BCP Securities, que tem se destacado na liderança de operações externas de bancos médios brasileiros. Podlubny não quis falar sobre a emissão do BMG, mas disse que o mercado externo de renda fixa vem melhorando muito desde o começo de abril. "O grau de investimento do Brasil e a captação do Tesouro foram a cereja no bolo", afirma.

Segundo a Thomson Reuters Markets informou ao jornal "Financial Times", o total captado em abril por meio de títulos de renda fixa no mercado externo até o dia 25 passou os US$ 300 bilhões, um aumento de 25% na comparação com março. Foi o socorro do Fed, banco central americano, ao Bear Stearns mais a ação coordenada dos bancos centrais trocando papéis sem liquidez no mercado por dinheiro que trouxe a maior movimentação. Mas, em 2007, haviam sido emitidos US$ 440 bilhões em títulos em abril no mercado.

"A liquidez para Brasil está melhor do que a liquidez para outros emissores", afirma Podlubny. Ricardo Gelbaum, diretor-executivo financeiro e da área internacional do BMG, também não quis comentar a operação do banco. Mas, afirmou que "os ventos estão realmente favoráveis e o BMG sempre costuma se mover rapidamente". Segundo Podlubny, o alongamento de prazo nas captações tem permitido que empresas que não fizeram emissões públicas iniciais de ações (IPO) por causa das condições mais difíceis na bolsa brasileira agora se preparem para realizar operações de dívida externa.

A Caramuru é um exemplo. Segundo informou à "Bloomberg" o vice-presidente Cesar Borges de Sousa, a empresa estuda vender cerca de US$ 100 milhões em títulos de vencimento de cinco a sete anos no mercado externo para alongar o prazo de vencimento de sua dívida. Está negociando a operação com três bancos de investimento. Recentemente, a Caramuru desistiu de realizar IPO.

Já a Sabesp obteve US$ 250 milhões por meio de um empréstimo guarda-chuva do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), informa a "Dow Jones Newswires". O BID vai entrar com US$ 100 milhões e os US$ 150 milhões virão de bancos comerciais, mas sob o guarda-chuva do BID, que aparece como o líder de toda a operação e reduz seu risco.