Título: Com Hillary em dificuldade, candidatura Obama cresce
Autor: Balthazar , Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 08/05/2008, |nternacional, p. A 11

As dificuldades crescentes que a ex-primeira-dama Hillary Clinton vem encontrando para continuar na corrida à Casa Branca ficaram evidentes ontem, quando ela admitiu que precisou novamente tirar dinheiro do próprio bolso para pagar as contas da campanha e viu uma liderança histórica do Partido Democrata dar adeus à sua caravana.

Hillary fez nas últimas semanas três empréstimos à sua campanha, no valor total de US$ 6,4 milhões. Somado um empréstimo anterior, feito em janeiro, ela já tirou do banco US$ 11 milhões para forrar os cofres do comitê. Como seus assessores admitiram ontem, parte do dinheiro saiu da carteira do seu marido, o ex-presidente Bill Clinton.

Ontem também, o ex-senador George McGovern, que disputou as eleições presidenciais de 1972 e perdeu para Richard Nixon, anunciou que vai votar no senador negro Barack Obama na convenção nacional dos democratas, em agosto. Os Clinton trabalharam como ativistas na campanha de McGovern em 1972 e ele foi um dos primeiros no partido a declarar apoio à ex-primeira-dama no ano passado.

Obama saiu fortalecido das prévias partidárias realizadas terça-feira nos Estados de Indiana e da Carolina do Norte e ampliou a vantagem que tem sobre Hillary na disputa pela liderança do partido. Segundo a agência de notícias Associated Press, ele já tem ao seu lado 1.840 dos 2.025 delegados necessários para ter a maioria na convenção de agosto. Hillary conseguiu 1.684.

Nas seis últimas prévias estaduais que serão realizadas nas próximas semanas, haverá 217 delegados em jogo. Entre os chamados superdelegados, grupo de líderes partidários que tem direito a voto na convenção e não precisa seguir a determinação das urnas, há pouco mais de 250 delegados ainda indecisos.

Hillary "precisa de um milagre", como um dos tablóides de Nova York declarou ontem na primeira página. Ela teria que ganhar mais de dois terços dos votos nas seis prévias que faltam para passar na frente de Obama. É improvável que ela consiga isso sem a ajuda de algum evento inesperado que estilhace a imagem de Obama e mude radicalmente a opinião do eleitorado.

Na noite de terça-feira, comentaristas influentes se revezaram na televisão para declarar que a disputa democrata está encerrada e que Hillary deveria reconhecer isso logo para não ampliar os danos que seu partido tem sofrido com o prolongamento da batalha. As pressões que têm sido feitas por lideranças partidárias para que ela jogue a toalha tendem a crescer.

Mas ela insistiu ontem que pretende manter a disputa até que o último voto das prévias seja contado, no início de junho. Apesar do quadro desfavorável, ela acha que ainda será possível colher nas próximas semanas indícios que convençam os líderes do partido de que ela tem melhores condições que Obama de vencer o senador John McCain, do Partido Republicano, na eleição presidencial de novembro.

Numa teleconferência com jornalistas ontem, seus assessores observaram que ela continua indo melhor do que Obama em nichos mais conservadores do eleitorado, que poderão ser decisivos em novembro. Nos dois Estados que votaram terça-feira, ela teve muito mais votos do que ele entre os eleitores brancos, especialmente entre as mulheres.

As bocas-de-urna mostram que Obama continua tendo dificuldades para superar desconfianças desses eleitores. Mas muitos analistas observam que o quadro atual pode mudar no futuro. Muitos eleitores que hoje resistem a Obama podem pensar diferente se virem Hillary Clinton fora da disputa, ou Obama frente a frente com McCain. As pesquisas indicam que Obama tem melhores condições do que Hillary de capturar os votos de eleitores independentes que não estão alinhados a nenhum dos dois grandes partidos e também poderão ser decisivos em novembro. McCain também tem muito apoio nesse segmento do eleitorado, um dos que mais cresceram nos últimos anos.

Hillary também vai insistir nas próximas semanas para que a cúpula do partido aceite credenciar as delegações de Flórida e Michigan, que favorecem a ex-primeira-dama mas foram excluídas da convenção de agosto porque os dois Estados desrespeitaram normas partidárias ao antecipar a realização das suas prévias no começo do ano. A manobra pode acrescentar dezenas de delegados ao seu time.