Título: Inflação chega a dobrar de uma região a outra
Autor: Ribeiro , Alex
Fonte: Valor Econômico, 26/05/2008, Brasil, p. A5

O Banco Central (BC) fez um estudo que investiga por que a inflação de 2007 foi maior em alguns centros urbanos do que em outros. O caso extremo é Belém, que registrou variação de 7,1% no Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA), mais do que o dobro dos 3,5% observados em Curitiba. Até aqui, achava-se que a inflação de Belém foi maior porque a população local destina parcela maior da renda ao consumo de alimentos, cujos preços subiram bastante em 2007. O estudo do BC desfaz esse mito: a inflação foi mais alta em Belém, sobretudo, porque os preços locais foram reajustados com maior ímpeto do que em outras regiões.

A inflação de Belém (7,1%) foi, em termos arredondados, 2,7 pontos percentuais superior aos 4,46% registrados no Brasil como um todo. Desse excesso de inflação registrado em Belém, 52% se explicam pelo efeito-preço, ou seja, reajustes maiores do que o observados no resto do país para o mesmos produtos. Outros 48% se referem ao chamado efeito-peso: os habitantes de Belém consomem mais do que a média do país justamente produtos que tiveram aumentos mais pesados, como alimentos e bebidas.

Belém é o caso extremo, mas há outros centros urbanos com inflação acima da média nacional. Um deles é Salvador, que, com uma inflação de 6,1%, ficou 1,6 ponto percentual acima do país como um todo. O estudo mostra que, em Salvador, a inflação mais alta nada tem a ver com o efeito-peso, ou seja, produtos que são mais consumidos. Cem por cento da inflação mais alta se explica pelos reajustes mais pesados nos preços. Belo Horizonte, com uma inflação de 5,9%, ficou 1,4 ponto percentual acima da média nacional. De novo, apenas o efeito-preço puxou a inflação.

Além de Belém, apenas um outro centro urbano, entre os 11 que fazem parte do IPCA, teve inflação mais alta causada pelo efeito-peso no consumo: Recife. A explicação é, sobretudo, o peso dos alimentos no gasto típico das famílias desses centros urbanos. Em Recife, alimentos e bebidas respondem por 24% dos gastos e, em Belém, 23%. Nos dois casos, o peso é maior do que a média nacional, de 21%. A alta dos preços dos alimentos e bebidas em 2007 (10,8%) foi maior do que a inflação geral, que ficou em 4,46%.

Os números acima mostram que, para Belém e Recife, a inflação seria maior que a média do país mesmo que as empresas locais reajustassem seus preços na mesma velocidade que as empresas de outras cidades. O estudo do BC concluiu, porém, que os preços em algumas cidades também subiram acima da média do Brasil. Em algumas cidades, subiram menos que a média nacional, caso de Curitiba, Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo.

Salvador é a cidade em que o efeito-preço foi mais forte, com contribuição de 1,6 ponto percentual na inflação local. A maior parte dessa diferença, ou 56%, se explica pelos reajustes de preços do grupo transportes, e 43% se refere à alta de preços do grupo habitação. No geral, são produtos não-comercializáveis, ou seja, que não podem ser "importados" de outras regiões do país. É o caso, por exemplo, da energia elétrica, que aumentou 4,8% em Salvador, ante uma queda de 6,2% no resto do país.

Em Belém, os preços que mais subiram acima da inflação nacional foram os de alimentos e bebidas. O efeito-preço é de 1,4 ponto. em Belém - 1,1 ponto é referente a alimentos e bebidas. Curitiba é o outro extremo. Os preços subiram menos, e a inflação ficou 1 ponto percentual menor. Os reajustes de preços de alimentos e bebidas, menores do que no resto do Brasil, respondem por 70% da diferença.