Título: Governistas articulam 'blindagem' de Severino
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 18/02/2005, Política, p. A14

Preocupados com a condução da presidência da Câmara pelo deputado Severino Cavalcanti (PP-PE), parlamentares governistas já estão se articulando uma espécie de blindagem ética-institucional na Casa. O objetivo seria reunir um grupo de parlamentares de todas as legendas, incluindo o PP, e garantir o debate qualificado de projetos relevantes para a agenda econômica e política do país. Esse grupo de parlamentares está ciente que Severino não abandonará as causas corporativistas, mas quer garantir que o plenário dê boa condução a determinados debates, com discussão de mérito. A avaliação dos governistas é que há um grupo de parlamentares, aproximadamente 150 deles, extremamente fisiológico, que não está interessado em discussões de mérito e nenhum projeto de desenvolvimento para o país. A formação do grupo suprapartidário teria como objetivo também influenciar Severino Cavalcanti na condução de certos projetos na Casa. O primeiro vice-presidente da Câmara, José Thomaz Nonô (AL), avaliam os governistas, terá um papel fundamental para preservar a imagem da instituição. Havia resistências no PT para eleger Nonô, já que ele era o candidato oficial da bancada. Os petistas queriam retaliar a oposição, por terem perdido a presidência da Casa. Integrantes das cúpulas do PFL e do PT entraram em ação para garantir a eleição de Nonô. O partido se dividiu e, graças a alguns votos petistas, o pefelista conseguiu ser eleito. No PP, os governistas acham que podem contar com Delfim Netto (SP), Francisco Dornelles (RJ) e Francisco Turra (RS). O atual líder, José Janene (PP-PR), não seria, para muitos governistas, um aliado de primeira hora. Os parlamentares acreditam que o governo vai precisar analisar com muito critério o comportamento de alguns líderes. Foram os deputados da base aliada, do PP, PTB, PL e PMDB, que elegeram Severino Cavalcanti, ponderam os governistas. A postura dos líderes do PL, Sandro Mabel (GO); e do PTB, José Múcio (PE); está sendo monitorada pelo governo. No PMDB, além do atual líder, José Borba (PR), que corre o risco de perder o cargo, o governo pretende contar com deputados como Osmar Serraglio (PR), que foi relator da reforma tributária na Comissão de Constituição e Justiça. O diálogo com a oposição, analisam esses governistas, pode ser qualificado. O líder do PFL, Rodrigo Maia (RJ), seria, para esse grupo, um parlamentar confiável, cumpridor de acordos. No PSDB também é possível fazer essa ponte institucional. No PT, os deputados acreditam que será preciso escolher nomes fortes para a liderança e para presidir as comissões temáticas. "O PT, sem a presidência, vai ter que travar embates de conteúdo nas comissões temáticas e nas bancadas. Sem ninguém na Mesa Diretora, também precisamos estabelecer uma relação de confiança com o presidente Severino Cavalcanti", defendeu o deputado Maurício Rands (PT-PE). Outra corrente do PT tem dificuldades de aproximação com Severino, por seu perfil conservador. Uma das primeiras medidas de Cavalcanti, na presidência, foi desativar a Galeria de Artes montada pelo antecessor, João Paulo Cunha. O pernambucano disse que gabinete é lugar para trabalho, e não para "quadrinhos".