Título: Escaldado, PT adia escolha de líder
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 18/02/2005, Política, p. A14

Diante da histórica derrota na eleição para a presidência da Câmara, os petistas estão cientes da necessidade de conduzir com cautela a escolha do novo líder da bancada. A definição deve ocorrer entre terça e quarta-feira da próxima semana. O campo majoritário do partido, no entanto, corre o risco de repetir erros anteriores caso não tenha habilidade de diálogo com as demais correntes da esquerda partidária. Em reunião reservada na noite de quarta-feira, o grupo majoritário decidiu que vai apresentar à bancada o nome do deputado Paulo Rocha (PA). Ligado ao ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, Rocha está na bancada federal há 14 anos e é hábil articulador interno. O problema é que, na opinião de boa parte da bancada, ele não teria o perfil adequado para enfrentar esse novo momento no Congresso. Integrantes do campo majoritário alertaram na reunião: não pode haver imposição de nomes, pois isso seria confusão na certa. "Sem o presidente da Câmara, vamos precisar de um líder que, além de articulador político, tenha um perfil de enfrentamento no plenário, quando necessário. Temos dúvidas se Paulo Rocha teria esse perfil", confessou um parlamentar. Outro complicador é o fato de Paulo Rocha ser muito alinhado ao Palácio. Os petistas avaliam que a crise mostrou a necessidade de o governo rever pontos de sua agenda prioritária, reconstruir relações com a base aliada e ouvir mais a esquerda. "Se queremos nos reaproximar dos movimentos sociais, é preciso mudar a agenda do governo", analisou o deputado João Alfredo (PT-CE). A esquerda petista também fez uma reunião ontem. Decidiram, por enquanto, não lançar nenhuma candidatura para rivalizar com o campo majoritário. Ex-líder da bancada, Walter Pinheiro (BA) assegura que a esquerda não tem resistência ao nome de ninguém, mas sim aos processos e à truculência do campo majoritário. "Precisamos mudar o método das relações no PT. O clima é de muita reavaliação, e sobram farpas para todos os lados. Primeiro discutimos a articulação política, nossos relacionamentos, a pauta que queremos. Só depois pensamos no nome que se encaixa nesse perfil", defendeu Pinheiro. O atual líder, Arlindo Chinaglia (SP), admite que o clima é de tensão na bancada com a derrota de Luiz Eduardo Greenhalgh (SP) para a presidência da Câmara. "A análise que estamos fazendo ainda está muito longe de chegar ao nível de profundidade que é necessário", opinou. Há uma parte da bancada que defende a manutenção de Chinaglia na liderança. A interlocutores ele já avisou que não vê com bons olhos quebrar uma tradição de alternância de parlamentares na liderança. Outra corrente acha que seria prudente recolocar o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha na liderança. Na avaliação do campo majoritário, João Paulo já voou muito mais alto, é melhor aguardar a reforma ministerial e eventuais mudanças na articulação política. O nome dele alternativa ainda para a liderança do governo na Câmara, ao lado de José Eduardo Cardozo (SP).