Título: Empresas brasileiras estão mais dispostas a combater o cigarro
Autor: Lucchesi , Cristiane Perini
Fonte: Valor Econômico, 30/05/2008, EU & Carreira, p. D10

Os títulos da dívida externa do governo federal do Brasil passarão a ter uma demanda extra de US$ 12,5 bilhões a US$ 13 bilhões agora que o país obteve o segundo grau de investimento pela Fitch Ratings, confirmando a decisão da Standard & Poor's do dia 30 de abril, estima a Lehman Brothers. É um total nada desprezível, dado que o estoque de papéis de dívida do Tesouro nas mãos dos investidores é hoje calculado em US$ 46,5 bilhões.

Os papéis do governo do Brasil terão demanda extra, pois passarão a ser incluídos nos índices de renda fixa da Lehman Brothers, possivelmente já no próximo mês, segundo disse Mauro Roca, analista da Lehman Brothers, ao Valor. Esses índices de crédito grau de investimento, que incluem países e empresas, são amplamente utilizados pelos investidores institucionais - fundos mútuos, de hedge, seguradoras e bancos. Mas só podem ingressar neles os títulos considerados grau de investimento por duas das três principais agências: Fitch, Standard & Poor's e Moody's.

"Para o mercado, agora o Brasil é oficialmente grau de investimento", disse Mauro Roca. segundo explicou, o país vai representar 0,17% do índice Lehman Aggregate, 0,38% do índice US Aggregate e 1,6% do índice US Credit.

"A demanda extra somente para os investidores se ajustarem a esse índice vai ajudar a comprimir mais os prêmios de risco do Brasil", acredita Paulo Soares, diretor da área internacional do Itaú. Ele lembra, no entanto, que os prêmios de risco Brasil estão nos níveis de crédito "AAA", enquanto o Brasil é "BBB-" pela Fitch e pela a Standard & Poor's, nove degraus abaixo. Na última captação externa, o Brasil pagou menos do que a GE e do que a Berkshire Hathaway, do megainvestidor Warren Buffet. Ontem, os papéis de vencimento em 2017 pagavam menos do que títulos da GE de mesmo prazo.

"O segundo upgrade não foi surpresa para o mercado", diz Soares. "O mercado já se antecipou em parte ao segundo grau de investimento", concorda James Quigley, responsável pelo banco de investimento e mercados globais da Merrill Lynch na América Latina e Canadá. "Por isso, eu não estou nem um pouco surpreso que a Bovespa tenha caído mesmo após a notícia dada pela Fitch", afirmou ao Valor.

Ele também não acredita em uma compressão extra muito forte nos prêmios de risco do país. Ontem, o risco-Brasil medido pelo contrato de swap de crédito de vencimento em cinco anos (Credit Default Swap) terminou o dia a 90,3 pontos básicos, uma queda de 6,4%. Para comparação, o risco do México fechou a 78,3 pontos básicos, da Rússia, a 86,7 pontos básicos, e do Peru, a 87,8 pontos básicos.

A Merrill Lynch calcula que, mesmo considerando-se as antecipações já feitas pelo mercado, uma demanda extra de no mínimo US$ 10 bilhões para comprar papéis do governo brasileiro deverá se verificar pelo ingresso dos papéis do país nos índices da Lehman. Em relatório, a Merrill Lynch lembra também que agora as principais empresas e bancos brasileiros passarão a ingressar nos índices da própria Merrill Lynch de títulos corporativos grau de investimento, o que deverá trazer uma demanda extra por esses papéis. Só entram no índice de Merrill Lynch as corporações cujos países têm pelo menos dois graus de investimento.

Ontem, em meio à notícia do segundo grau de investimento, a Braskem conseguiu sucesso e captou US$ 500 milhões em títulos com vencimento em dez anos. Pagou rendimento de 7,375% ao ano, o que equivale a um prêmio de risco de 328,4 pontos básicos.