Título: BIS vê fundo soberano como opção para reservas de países emergentes
Autor: Moreira , Assis
Fonte: Valor Econômico, 09/06/2008, Finanças, p. C2

O Banco de Compensações Internacionais (BIS), o banco central dos bancos centrais, vê a criação de fundos soberanos como "possível remédio" para economias emergentes reduzirem a volatilidade de suas crescentes reservas internacionais. A sugestão está em um estudo no qual o Brasil aparece como tendo o maior custo financeiro na manutenção das reservas entre as grandes economias emergentes, que acumularam US$ 4,5 trilhões até o terceiro trimestre de 2007.

Entre 1999-2007, o custo para o Brasil ficou em torno de 1% do Produto Interno Bruto (PIB), atribuído às altas taxas de juros no país e à apreciação do real desde 2003 - custo comparado a 0,3% em outros emergentes. Na Nigéria, por exemplo, ele foi de 1%.

O país é uma "notável exceção", na linguagem do banco, notando que vários emergentes obtêm mais renda governamental com as reservas. É o caso da China, com juros internos baixos e moeda desvalorizada, que ganha com as aplicações no exterior, além da Argélia, África do Sul, Taiwan e Tailândia.

A maior parte dos bancos centrais prefere aplicar em títulos de curtíssimo prazo, com risco de crédito menor, mas também remuneração mais baixa, para poder usar rapidamente as reservas em caso de crise cambial.

Com base em carteiras hipotéticas de reservas de 12 emergentes no período 1999-2007, o BIS conclui que a diversificação das reservas para ativos mais arriscados, como ações e títulos com prazo maior, poderia dar retorno adicional entre 0,4% e 1,2% com alta apenas ligeira da volatilidade. Em termos de PIB, porém, o impacto é insignificante. O custo financeiro das reservas declinaria apenas marginalmente, em 0,1%, no Brasil, México e África do Sul, segundo as hipóteses do banco.

O estudo destaca que o debate sobre diversificação das reservas internacionais não pode ignorar o papel que práticas contábeis e regras de distribuição dos benefícios terão nas decisões dos bancos centrais. Nas circunstâncias em que as reservas são acumuladas, por meio de "quase superávit fiscal", um remédio seria os bancos centrais transferirem ativos mais arriscados para fundos de estabilização ou fundos soberanos com mandato diferente na gestão das reservas internacionais. Assim, reduziriam a volatilidade desse capital. Certo mesmo, conclui, é que o foco sobre melhor retorno a partir de investimentos mais estruturados deve aumentar no futuro.

No relatório trimestral, o BIS constata um "prudente retorno à tolerância de riscos" na cena financeira global. A percepção de risco se deslocou da preocupação com o crescimento econômico para o temor de inflação. Mas persiste a "alta tensão" nos mercados interbancários.

O banco calcula também que as perdas com hipotecas de alto risco americanas ("subprime") chegam a US$ 250 bilhões, dos quais US$ 119 bilhões (47%) é com títulos que receberam classificação "AAA", a melhor. Destaca que ativos das economias emergentes seguem em evolução similar à dos ativos das economias industrializadas. E nota que a "elevada trajetória" da expansão econômica na América Latina é vista por certos analistas em parte como resultado de "demanda especulativa", enquanto outros se focam na taxa de industrialização sustentável nos emergentes em geral.