Título: Yeda busca pacto com partidos aliados
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Fonte: Valor Econômico, 10/06/2008, Política, p. A8

A governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius (PSDB), anunciou ontem a criação de um "gabinete de transição" para reagrupar a base aliada depois do recrudescimento da crise política que levou à demissão, no fim de semana, do chefe da Casa Civil, Cezar Busatto (PPS), e do secretário geral de governo, Delson Martini (PSDB). O grupo será formado hoje por um representante de cada partido aliado, que inclui, além dos tucanos, o PMDB, o PP, o PTB e o PPS, e terá sete dias ou "um pouco mais" para definir os nomes dos substitutos das duas pastas, disse a governadora.

Conforme Yeda, o grupo que será coordenado por ela terá a tarefa de firmar uma "carta de compromisso" entre os partidos e o governo para estabelecer uma estratégia política que lhe permita trabalhar "sem sobressaltos". Ela afirmou ainda que o futuro chefe da Casa Civil será do PSDB para melhor representar a "palavra da governadora" nas negociações com o Legislativo. Antes de Busatto, o primeiro a ocupar o cargo foi o peemedebista Luiz Fernando Zachia, hoje na Secretaria do Desenvolvimento do Estado.

Ao mesmo tempo em que conseguia acalmar os ânimos dos aliados, principalmente o PP e o PMDB, citados em uma conversa gravada divulgada pelo vice-governador Paulo Afonso Feijó (DEM), na qual Busatto admite que o Detran gaúcho - alvo de uma CPI que investiga desvios de recursos denunciados pela Polícia Federal - e o Banrisul são fontes de financiamento para os dois partidos, Yeda seguiu sob fogo cerrado dos adversários. No fim da tarde, Feijó, que entrou em rota de colisão com a governadora desde o início do mandato, também colocou mais lenha na fogueira.

O P-SOL vai protocolar esta semana no Legislativo um pedido de impedimento da governadora e defende a realização de novas eleições, disse a deputada federal do partido, Luciana Genro. O PT também vai propor o impedimento de Yeda, mas dentro do relatório da CPI do Detran que deve ser elaborado até o início de julho para evitar um processo "afoito", que corra o risco de não obter sustentação política, disse o líder da bancada, Raul Pont. O problema é que o relator da comissão é o tucano Adilson Troca e caso a proposta não prospere o partido poderá tomar sozinho a iniciativa, afirmou o parlamentar.

Já o vice-governador afirmou que não pretende derrubar Yeda, mas disse que no "momento oportuno" pode apresentar novas gravações comprometedoras. "Espero que não haja impedimento, mas, se houver, deveriam ser convocadas novas eleições", afirmou. Insatisfeito por ter sido excluído do núcleo decisório do governo, Feijó já pediu à governadora, sem sucesso, a destituição do presidente do Banrisul, Fernando Lemos, a quem acusa de cometer irregularidades no cargo, e disse que na conversa gravada, em maio, Busatto tentou lhe "cooptar" para que ele parasse de atacar o banco.

Ontem Busatto reafirmou ter sido vítima de uma "tocaia" armada pelo vice-governador, que gravou a conversa sem seu conhecimento. Ele disse que procurou Feijó para buscar a reaproximação dele com a governadora e também para evitar a consolidação de um clima propício à instalação de uma comissão parlamentar para investigar as denúncias contra o Banrisul. "Tenho convicção de que uma CPI poderia significar a quebra do banco". Segundo o ex-chefe da Casa Civil, embora sem autorização da governadora, ele chegou a "conjecturar" com Feijó a possibilidade do afastamento de Lemos se este fosse o "preço" para evitar uma CPI sobre a instituição.

Além de Busatto, o ex-secretário geral de governo, o tucano Delson Martini, também foi exonerado no fim de semana, mas porque seu nome foi envolvido no caso do desvio de R$ 44 milhões no Detran numa conversa gravada entre dois processados no caso. Ontem o Diário Oficial do Estado publicou ainda a demissão de José Luiz da Rocha Paiva, diretor do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer). O organismo também foi mencionado pelo ex-chefe da Casa Civil como fonte de financiamento para partidos políticos em outras administrações.