Título: Mirae vem da Coréia do Sul para ser uma das líderes no Brasil
Autor: Fariello, Danilo
Fonte: Valor Econômico, 13/06/2008, EU & Investimentos, p. D5

Oh e Jung, diretores da Mirae Asset no Brasil: empresa quer ter fundos locais e montará equipe de análise no país A meta é simples, ser um dos maiores gestores de recursos do Brasil. Com a paciência inata dos orientais e o conhecimento de que o mercado local é fechado e concentrado, os coreanos da Mirae Asset desembarcam com pompa no país, dispostos a chegar aos primeiros lugares no ranking dos mercados onde atuarão. Eles querem ser uma gestora, um banco de investimentos e uma corretora e aguardam as licenças dos órgãos reguladoras para começar a operar. Na Coréia do Sul, a empresa, criada em 1997, é a líder no mercado de administração de recursos, com US$ 73 bilhões (R$ 119,4 bilhões) sob gestão, o que equivaleria à quarta posição no ranking brasileiro.

A Mirae Asset chega ao Brasil animada pela recente abertura do mercado de fundos brasileiro para aplicações no exterior. "Somos especialistas em Ásia e achamos que aquele mercado deverá atrair os brasileiros, pelo caráter mais arriscado dos emergentes", diz Edward Oh, diretor executivo das operações brasileiras da Mirae Asset. Além de fundos com aplicações no exterior, a empresa também quer ter produtos puramente locais.

Oh sabe, porém, das dificuldades que o mercado brasileiro apresenta para uma nova instituição estrangeira e diz que todos os planos do grupo coreano miram o crescimento no longo prazo, focando principalmente na gestão de ações. "O mercado brasileiro já deixou de investir apenas em renda fixa para aplicar em multimercados e, quando os juros voltarem a cair, deverá haver uma transição maior para fundos de ações." Mostrando-se conhecedor do mercado brasileiro, apesar de estar aqui só há 3 meses, ele diz que há potencial para os fundos de ações ampliarem a fatia atual de 10% do total de patrimônio do setor (sem incluir os de privatização).

A Mirae focará principalmente a oferta de fundos de ações, mas também pensa em lançar fundos de renda fixa locais. Estão nos planos carteiras que invistam parte ou o total do patrimônio no exterior. Projetos similares são tocados pela Mirae também na Índia e nos Emirados Árabes. Por aqui, Oh e Jonathan Jung, da equipe de estratégia global da Mirae Asset Securities, não descartam boas oportunidades de fusões ou aquisições com empresas financeiras já constituídas, apesar dos processos de pedidos de licenças regulatórias.

A empresa financeira coreana deverá criar uma equipe de pesquisa local, para avaliar as companhias do Brasil. Dessa forma, as decisões sobre investimentos brasileiros dos já existentes fundos globais da Mirae também serão tomadas aqui. A gestora já administra um fundo de US$ 4 bilhões que aplica exclusivamente em grandes empresas brasileiras, a partir de Londres. É parte desses recursos que deverá prover capital para o início das operações aqui no Brasil

No futuro, Oh diz que a Mirae também poderá trazer ao Brasil produtos de investimentos alternativos, como private equity e fundos imobiliários. "Antes disso, precisamos construir uma marca no mercado local, sermos conhecidos e crescer", explica.

O executivo coreano à frente do Brasil não descarta nenhuma possível estratégia de distribuição de seus produtos entre investidores brasileiros. "Focaremos todos os setores, desde seguradoras e fundos de pensão até investidores de varejo por meio de bancos e outros parceiros distribuidores", diz. "Sabemos que dez gestores controlam mais de 70% do mercado local, mas somos agressivos e queremos competir." Para Oh, porém, a velocidade com que a Mirae conquistará espaço está intimamente ligada ao rumo da taxa Selic. Quanto mais demorar para voltar a cair, pior.

Além da gestora, a Mirae também já solicitou licenças para atuar como banco de investimento e quer uma de corretora. No mundo, somada essa atuação, a empresa administra US$ 130 bilhões (R$ 212,5 bilhões). Essa operação no Brasil estará a cargo de Jung. Serão, portanto, duas diferentes companhias, que ocuparão um andar em um novo e luxuoso edifício na Avenida Juscelino Kubitschek, na capital paulista. O banco de investimentos oferecerá serviços de gestão de fortunas ("wealth management"), além de outros produtos de investimentos, conta Jung.

Tanto o banco quanto a gestora nascem com capital social de R$ 80 milhões cada. Ambas as empresas têm um total de 130 vagas a serem preenchidas. Atualmente, Oh, Jung e o brasileiro Júlio Silva, gerente de recursos humanos da asset, entrevistam uma série de executivos brasileiros em busca de nomes com boa expressão no mercado local. "Tenho expectativa positiva e nenhum medo com a união das culturas coreana e brasileira", diz Oh. Além das contratações locais, o escritório central da empresa em Seul deverá mandar ao Brasil mais profissionais, para conhecerem as especificidades locais. Para montar as empresas e conseguir as licenças para operarem, a Mirae também conta com os serviços de três dos maiores escritórios de advocacia do Brasil.