Título: Países negociam texto da área industrial
Autor: Rosas, Rafael
Fonte: Valor Econômico, 17/06/2008, Brasil, p. A4

Um grupo de 12 países, incluindo o Brasil, chegou a um acordo de princípio ontem para ampliar de oito a dez anos o prazo para nações em desenvolvimento implementarem um eventual acordo industrial na Rodada Doha. Durante esse período, cortarão gradualmente as tarifas de importação ao nível que for acertado na negociação global. Os ricos terão prazo de cinco anos para baixar suas alíquotas.

Esse grupo dos 12 continua se reunindo na missão americana, por iniciativa de Washington. Os pequenos entendimentos técnicos, porém, são insuficientes para fechar a barganha agrícola e industrial proximamente, admitem diplomatas. Nesse cenário, a declaração do presidente George Bush, feita em Londres, faz parte do script americano de colocar pressão sobre os três grandes emergentes - Brasil, China e Índia.

Atualmente, mais dedos apontam a Índia como a maior causadora de problemas para fechar uma barganha - o país participa das atuais discussões, mas contesta a iniciativa. Diz que um esboço de acordo entre os 12 não terá legitimidade e que qualquer entendimento precisa ser alcançado no grupo de negociação industrial na OMC. "Os indianos estão complicando tudo que é possível para evitar um acordo em Doha", diz uma fonte, ressaltando que o grupo dos 12 é uma tentativa de salvar a rodada ao reunir os principais países para acertarem as divergências. Só que a Argentina, um dos duros na área industrial, está fora.

Vários embaixadores em Genebra falam de uma possível reunião ministerial em fins de julho, para tentar um acordo. A americana Susan Schwab já advertiu outros ministros que só viriam se realmente um entendimento estiver bem "pré-cozinhado", para evitar novo fiasco. Fontes garantem, em todo caso, que há muita conversa telefônica entre alguns presidentes para salvar a negociação global e que haveria mais demonstração política nesse sentido.

Enquanto isso, o mediador da negociação industrial, o embaixador canadense Don Stephenson, pode ser transferido no fim de julho para outro posto pelo seu governo. Isso complicaria ainda mais a combalida Rodada Doha.