Título: BC duplica a projeção de déficit externo em 2008, para US$ 21 bi
Autor: Ribeiro , Alex
Fonte: Valor Econômico, 24/06/2008, Finanças, p. C1

O Banco Central praticamente duplicou a sua projeção para o déficit em conta corrente deste ano, de US$ 12 bilhões para US$ 21 bilhões, em virtude do crescimento das importações e do aumento das remessas de lucros e dividendos. O resultado esperado equivale a 1,49% do Produto Interno Bruto (PIB), percentual mais negativo desde 2002, quando o déficit foi de 1,51% do PIB.

Apesar da piora, o déficit ainda permanece abaixo dos picos registrados desde o Plano Real. O maior valor da história recente ocorreu em 1999, segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso, quando chegou a 4,32% do PIB. Em 1974, chegou a 6,8% do PIB. "O déficit é financiado pelos ingressos de investimentos diretos e de outros capitais de longo prazo, como captações no exterior", disse o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.

Nas suas projeções, o BC conta com um cenário de acomodação nos déficits. De janeiro a maio, o país acumula um saldo negativo em conta corrente de US$ 14,717 bilhões. Ou seja, daqui por diante, o déficit mensal médio deve ser de até US$ 898 milhões para que a projeção de US$ 21 bilhões feita pelo BC para o ano seja confirmada. Os analistas do mercado financeiro esperam um déficit de US$ 23 bilhões em 2008, segundo a pesquisa semanal de expectativas feita pelo BC.

Em maio, o déficit ficou abaixo de US$ 898 milhões, com US$ 649 milhões. Houve uma melhora considerável em relação os maus resultados divulgados no primeiro quadrimestre, quando o déficit médio mensal foi de US$ 3,517 bilhões. Mas as indicações são de que, em junho, o déficit em conta corrente voltará a se acelerar, embora sem retornar aos patamares do primeiro quadrimestre. O BC projeta déficit em conta corrente de US$ 1,2 bilhão para junho.

Três fatores principais explicam o aumento do déficit em conta corrente. O mais importante deles é o aumento das remessas de lucros e dividendos. O BC subiu de US$ 24 bilhões para US$ 29 bilhões as remessas líquidas esperadas para este ano. Lopes disse que as projeções foram revistas para incorporar as fortes remessas de lucros e dividendos observadas neste início de ano - que somaram US$ 15,596 bilhões no período de janeiro a maio.

Três fatores vinham puxando as remessas de lucros e dividendos: o crescimento do lucros das empresas; a apreciação da taxa de câmbio; e as remessas de filiais para cobrir perdas de matrizes no exterior, sobretudo nos segmentos de veículos e intermediação financeira. Este último fato, disse Lopes, deverá pesar menos daqui por diante. "As montadoras e instituições financeiras já remeteram bastante", disse. Em maio, por exemplo, o setor financeiro remeteu apenas US$ 10 milhões, bem menos do que os US$ 2,285 bilhões observados no primeiro quadrimestre do ano.

Lopes diz que, em junho, há sinais de acomodação nas remessas de lucros e dividendos. Dados parciais até 23 de junho registram remessa de US$ 1,260 bilhão, e a projeção para o mês é de que as saídas cheguem a US$ 1,6 bilhão. Se confirmado, o número será a metade em relação à remessa de US$ 3,238 bilhões de maio.

Outro fator que levou o BC a aumentar sua projeção para o déficit em conta corrente foi o desempenho menos favorável da balança comercial. O saldo comercial esperado para o ano foi reduzido de US$ 27 bilhões para US$ 25 bilhões.

O que mudou foi apenas a projeção para as importações, que passou de US$ 155 bilhões para US$ 157 bilhões. Lopes disse que o resultado menos favorável em comércio exterior se deve à valorização da taxa de câmbio e ao forte aquecimento da demanda doméstica.

De janeiro a maio, a balança comercial registra saldo de US$ 8,656 bilhões, com alta de 20% nas exportações e de 46% nas importações, comparado com o mesmo período do ano anterior.

Outro item com peso na revisão das projeções foram as viagens internacionais. O déficit esperado agora é de US$ 5 bilhões, acima dos US$ 4 bilhões estimados antes. Em maio, o déficit em viagens somou US$ 585 milhões e, de janeiro a maio, chegou a US$ 2,014 bilhões.