Título: Pluna investe na América do Sul
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 07/07/2008, Empresas, p. B1

Pouco mais de um ano após ser comprada por investidores privados, a companhia uruguaia Pluna quer entrar na disputa pelo fluxo aéreo de passageiros entre Brasil, Argentina e Chile comendo pelas beiradas. Sediada em Montevidéu, a empresa planeja fazer da capital uruguaia um centro de conexões para vôos entre esses países, com rotas alternativas àquelas oferecidas pelas concorrentes que dominam esse mercado, como LAN, Gol, TAM e Aerolíneas Argentinas.

Por ser originária de um país com 3,5 milhões de habitantes e 176 mil quilômetros quadrados - pouco menos do que a área do Estado do Paraná -, a Pluna não tem perspectivas de crescimento com vôos dentro do próprio território uruguaio. No segmento internacional, o transporte de estrangeiros ao Uruguai e vice-versa também é limitado. O mercado de passageiros que viajam entre países da América do Sul, entretanto, é promissor. Segundo projeções da Boeing, esse fluxo é o que deve apresentar o segundo maior crescimento no mundo até 2026, de 6,6% ao ano, atrás apenas do aumento de tráfego interno na China, de 8,8%.

O objetivo da Pluna é fazer de Montevidéu um centro que recebe vôos de diferentes cidades e permite conexões rápidas dos passageiros para outros destinos. Um vôo que sai do Brasil, por exemplo, passaria pela capital uruguaia e, a partir dali, os passageiros tomariam outros vôos para chegar a cidades na Argentina ou no Chile. Segundo Gonzalo Mazzaferro, diretor da Pluna no Brasil, o aeroporto internacional de Carrasco, em Montevidéu, é ocioso e permite esse tipo de operação.

A estratégia da Pluna se assemelha, em menor escala, à da panamenha Copa Airlines, que criou um centro de conexões na Cidade do Panamá. A capital recebe vôos da América do Sul, América do Norte e América Central e permite ligações rápidas entre as três regiões. Atualmente, a Copa tem 39 aeronaves.

A Pluna, por enquanto, tem sete aviões. São cinco do modelo CRJ 900, fabricadas pela Bombardier, com capacidade para 90 passageiros; um Boeing 737-200 que será devolvido até o fim do ano; e um Boeing 767-300. Até dezembro, a empresa receberá mais três CRJ 900 e poderá exercer a opção de compra de mais sete deles. A companhia vendeu 75% de seu capital para o consórcio de investidores Leadgate, no ano passado. O restante da participação permanece com o governo uruguaio.

A frota composta por aviões com 90 assentos permitirá explorar rotas de média demanda, menos exploradas pelas grandes concorrentes na ligação entre os países do Cone Sul. Empresas como TAM, Gol e LAN operam aviões com capacidade para mais de 140 passageiros e acabam concentrando operações em cidades de grande demanda, como São Paulo.

Em linha com a estratégia, a Pluna inaugurou no dia 27 de junho um vôo que liga Rio de Janeiro, Curitiba e Montevidéu. "Esse vôo atende passageiros que não querem passar pelos aeroportos congestionados de São Paulo para voar para uma cidade sul-americana", afirma Mazzaferro. A companhia já operava 11 vôos semanais entre São Paulo e Montevidéu.

Até o fim deste ano, segundo Mazzaferro, a Pluna vai criar vôos em uma das quatro capitais: Brasília, Belo Horizonte, Porto Alegre ou Campinas. "Em 2009, vamos inaugurar outros dois destinos no Brasil", afirma. A empresa também criou recentemente vôos nas cidades argentinas de Córdoba e Rosário. Ela já tem vôos para Buenos Aires e Santiago.

Em 2007, a companhia teve receita de US$ 86 milhões e, para este ano, prevê alcançar US$ 148 milhões. A taxa média de ocupação no ano passado foi de 54%. Em 2008, até agora, registra 71%, segundo Mazzaferro.

A empresa uruguaia, entretanto, não é a única companhia sul-americana que planeja ter vôos em outras cidades brasileiras, além de São Paulo e Rio de Janeiro. A peruana Taca estuda cidades do Nordeste que poderiam ter vôos diretos para Lima. "Essa será uma possibilidade quando começarmos a receber aviões da Embraer", diz Ian Gillespie, diretor da Taca no Brasil. A empresa tem encomenda de 11 aviões Embraer 190, que pode ter de 98 a 114 assentos. Com os equipamentos menores, a Taca prevê que será possível desenvolver mercados novos, onde a demanda não é tão grande como nos grandes centros. Hoje, a companhia tem dois vôos diários entre São Paulo e Lima e vai inaugurar quatro freqüências semanais entre a capital peruana e o Rio de Janeiro, mas todos são operados com aviões Airbus de maior porte.