Título: Escola vai bem no teste
Autor: Leite, Larissa
Fonte: Correio Braziliense, 01/03/2011, Brasil, p. 10

Quando alvo de rankings mundiais, a educação brasileira costuma ocupar posição pouco nobre ¿ no último Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), de 2009, o Brasil ocupou o 53º lugar em um universo de 65 nações. Se a referência é local, o destaque se inverte. Na mesma avaliação, ao serem analisados os resultados de provas de leitura, matemática e ciência, o país foi o terceiro que mais avançou em 10 anos. Essa melhoria da educação pública tem saído das estatísticas e começado a ser percebida pela população. Segundo levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 48,7% dos brasileiros acreditam que a educação melhorou. Outros 27,2% consideram que as condições não mudaram e, para 24,2%, pioraram.

Apesar da percepção geral positiva sobre a educação pública, as diferenças encontradas país afora também se revelam no estudo. Os entrevistados mais satisfeitos da pesquisa são da Região Centro-Oeste, onde 62,9% afirmaram que a educação melhorou. A região é seguida pelo Nordeste (56,2%) e Norte (54,3%). Já nas regiões Sul e Sudeste, as avaliações foram mais pessimistas. No Sudeste, apenas 40% dos entrevistados percebem melhorias, enquanto 36,1% indicaram que a educação pública teria piorado (veja arte). ¿A percepção é resultado das políticas do governo, que começaram a focar nos estados e nas regiões mais necessitadas¿, defendeu o consultor em educação do Ipea Paulo Corbucci.

O instituto justifica, na pesquisa, que a diferença nas percepções ¿é corroborada, em parte, pelos números do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), que apontam as regiões Centro-Oeste, Nordeste e Norte como as que mais tiveram evolução positiva na educação. Talvez, por partirem de um patamar mais baixo¿. O Ideb mede a aprovação e o desempenho de estudantes em língua portuguesa e matemática. De 2005 a 2009, a evolução do índice nos primeiros anos do ensino fundamental foi de 26% no Centro-Oeste e 19% no Sudeste.

Apesar do otimismo, as regiões ainda apresentam grandes diferenças educacionais entre elas: no Nordeste, as pessoas com 15 anos ou mais de idade têm em média de 6,3 anos de estudo. Já no Sudeste, esse valor sobe para 8,2 ¿ a média nacional, apontada pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), é 7,5. ¿Quem tem menos condições ou quem não tem acha bom o que vier. A qualidade vem em segundo lugar. No Sudeste, as estruturas já existem. Eles não sentem como sente a cidade de Petrolina, que recebe a educação e tudo muda. Os restaurantes, os aluguéis. Isso pode ter influenciado nessa resposta¿, afirma a economista e especialista em desenvolvimento regional Tânia Bacelar.

Permanência é desafio Para ter uma educação de qualidade, o ensino deve estar em sintonia com ações públicas efetivas responsáveis pela permanência de crianças na escola. Para o Ipea, pelo menos três ações empenhadas pelo governo federal são fundamentais nesse sentido: o Programa da Merenda Escolar, o Programa do Livro Didático e os conselhos escolares. Em relação ao ensino superior, o instituto avalia o Programa Universidade para Todos (Prouni). Segundo o estudo divulgado ontem, a maioria dessas iniciativas é pouco conhecida ou conta com uma avaliação negativa. ¿É preciso refletir até que ponto a percepção acerca dos programas escolares pode contribuir para a construção de comunidades envolvidas com o processo de escolarização das crianças, especialmente as mais pobres.¿

Dos entrevistados, 71% afirmaram desconhecer os conselhos escolares, que devem acompanhar as gestões administrativa, pedagógica e financeira das escolas. Em relação ao Programa do Livro Didático, o desconhecimento é de 68%. A percepção sobre a merenda escolar muda bastante de região para região. No Sul, 75,8% dos entrevistados consideram a qualidade dos alimentos boa. No Norte, essa percepção caiu para 38,6%. No Nordeste é de 39,1%. Para o consultor do Ipea Paulo Corbucci, esses índices podem ser explicados pelas carências alimentares das regiões Norte e Nordeste: ¿Nelas, a merenda é fundamental, pode ser a refeição diária do estudante. A demanda por comida é muito maior. Isso revela que é preciso, acima de tudo, melhorar as condições gerais de vida da população¿. Na pesquisa, foram ouvidos 2.773 brasileiros em todos os estados do país, entre 3 e 19 de novembro de 2010. (LL)