Título: AB-InBev pode estimular mais fusões
Autor: Cunha , Lílian
Fonte: Valor Econômico, 15/07/2008, Empresas & Tecnologia, p. B1

Está aberta novamente a temporada de fusões e aquisições no mercado de cervejas mundial. Com a compra da Anheuser-Busch pela InBev, todas as outras cinco grandes companhias mundiais (Heineken, SABMiller, Femsa, Carlsberg e Molson Coors) terão de se mexer para continuar no mercado. Agora, quem não comprar, poderá ser comprado.

"A transação entre a Anheuser e a InBev muda completamente o mercado mundial", diz a analista Ann Gilpin, da consultoria Morningstar, de Chicago, nos EUA. "A britânica SABMiller, que deixa de ser a maior do mundo, se torna menos poderosa internacionalmente e, dentro dos EUA, terá que encarar AB com outros olhos", explica a consultora.

A mexicana Femsa também acordou de um dia para o outro em maus lençóis. "Em 24 horas sua maior concorrente nos Estados Unidos mais que dobrou de tamanho", diz a analista.

E isso também atinge outro grande mercado da Femsa, o México, onde a Anheuser-Busch tem 50% do Grupo Modelo, a maior cervejaria do país e fabricante da Corona. A Modelo terá que decidir entre aceitar a fusão ou comprar a parte que pertence à AB. Também poderá vendê-la. "Eles estão literalmente dormindo com o inimigo", diz Adalberto Viviani, consultor da Concept.

No caso de a maior cervejaria mexicana decidir se desfazer da participação, surgem aí os candidatos à compra: a holandesa Heineken, que tem um perfil bem agressivo no que tange a aquisições, a SABMiller, endinheirada para sair às compras, e, num quadro um tanto esdrúxulo, até a própria Femsa. Dificilmente, porém, as autoridades de defesa de mercado mexicanas permitiriam esse negócio. E isso piora um pouco mais a situação da Femsa.

"A empresa tem que decidir uma aquisição rapidamente para defender seu mercado em casa e nos EUA e se consolidar na América Latina", diz o consultor.

É aí que entram em cena as cervejarias nacionais. Empresas como elas, segundo os dois consultores, estão agora sob a mira tanto da Femsa como da SABMiller. "A pressão sobre a cervejaria britânica agora é quase insuportável. Ela precisa logo fazer uma aquisição que melhore sua presença internacional, seja na América Latina ou nos Estados Unidos", diz Ann Gilpin.

Na terra da Anheuser-Busch, a presa da SABMiller seria a Molson Coors, mas esta já tem uma parceria com a AB. Outra companhia bastante "comprável", segundo os analistas, é a dinamarquesa Carlsberg, com forte presença nos países do Leste Europeu.

De qualquer foram, é certo que os próximos dois anos serão diferentes dos últimos dez, quando nenhuma grande aquisição aconteceu. A maioria ficou na esfera regional, como a compra da russa Tinkoff Brewery pela InBev e da polonesa Dojlidy Brewer pela SABMiller. Daqui para frente, a agitação de compras vai se dar tanto globalmente quanto regionalmente. Empresas menores, como a própria Carlsberg, mesmo mais para caça do que para caçador, vão procurar cervejarias regionais. "Não seria uma compra imediata. O movimento é o de abrir diretorias estratégicas em campos onde não atuam para formar parcerias com esses pequenos negócios", diz Viviani. Nessa dança das cadeiras, só duas empresas devem ficar de fora: as japonesas Kirin e Asahi. Não que as duas não queiram expandir-se. Mas a estratégia delas é crescer regionalmente, principalmente na China e na Coréia do Sul.