Título: Freio na debandada
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 05/03/2011, Política, p. 2

¿Qualquer coisa hoje é melhor que permanecer no DEM¿. A frase, dita pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, consolidou nos últimos dias a disposição de formar o Partido da Democracia Brasileira (PDB) e sepultou as expectativas de um recuo. Por isso, nesse período de carnaval, a política viverá uma verdadeira guerra de bastidores em torno do movimento do prefeito para enraizar a nova legenda em contraponto à reação dos interessados na preservação do DEM.

Há várias semanas, Kassab conta com a ajuda do governo federal no sentido de sufocar ainda mais a oposição. Do outro lado da corda, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e o senador Aécio Neves (PSDB-MG) trabalham para evitar a debandada geral no DEM e ajudam no sentido de garantir uma presença maciça na convenção do partido, em 15 de março. A data, na prática, marca a volta das ações da política no pós-carnaval.

O Planalto acompanhou todas as conversas do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, com Kassab no sentido de estimulá-lo a sair do DEM e, num futuro, fundir-se aos socialistas. Nada foi feito sem o conhecimento da presidente Dilma Rousseff e do ministro da Casa Civil, Antônio Palocci. Ciente desses gestos ¿ e da presença de Eduardo Campos como o único político de fora do PT convidado para o jantar de comemoração do aniversário do partido, onde estiveram Dilma e Lula ¿ os tucanos entraram em campo. Por isso, hoje, a expectativa de 20 deputados inicialmente projetada por Kassab para compor a nova agremiação caiu pela metade, mas não o demoveu da ideia.

O Democrata calculava que, com o anúncio de Jorge Bornhausen, de que não seguiria Kassab, o prefeito iria recolher os flaps. Isso não ocorreu. Deputados de São Paulo, como Guilherme Campos, começaram a promover reuniões com colegas do partido. Foi então que o líder da bancada, ACM Neto, acionou o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. O tucano não pretende deixar Kassab montar um partido e ameaçar as suas chances de concorrer com folga à reeleição.

Apelo Alckmin fez chegar aos suplentes no exercício de mandato de deputado federal ¿ Eleuses Paiva e Walter Ihoshi ¿ que a permanência deles na Câmara pode durar menos do que esperavam, caso decidam seguir com Kassab. Ihoshi, por exemplo, é sexto suplente da coligação e está lá graças ao fato de Alckmin ter puxado um grupo de tucanos para o secretariado. Além disso, Jorge Tadeu Mudalen (DEM-SP) fez apelos aos colegas no sentido de explicar as dificuldades de se criar um novo partido pelas regras atuais (veja Para saber mais). Apesar disso, quatro dos oito deputados do DEM de São Paulo devem seguir Kassab ¿ Guilherme Campos, Rodrigo Garcia, Junji Abe e Eleuses Paiva, o segundo suplente.

No caso de Minas Gerais, há quatro suplentes em exercício que também dependem da boa vontade do governo de Antonio Anastasia para permanecer no Congresso. Portanto, não foi difícil convencê-los a ficar onde estão. Em alguns casos, não foi nem preciso. ¿Nunca cogitei sair do Democratas. Lamento a saída de Kassab, mas o partido não vai acabar por causa dele¿, comenta o deputado Vitor Penido (DEM-MG).

A ação de ACM Neto no sentido de escorar a árvore não conseguiu evitar rusgas em sua própria base. O deputado Paulo Magalhães (DEM-BA) votou várias vezes com o governo nos últimos dois anos. Essa semana, rasgou elogios ao petista João Paulo Cunha, que tomou posse como presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. As apostas do partido indicam que ele seguirá Kassab.

A maior incógnita é a senadora Kátia Abreu (DEM-TO). Como presidente da Confederação Nacional de Agricultura (CNA), ela tem boa relação com o governo. Recentemente, visitou o vice-presidente da República, Michel Temer, para combinar uma parceria do setor agropecuário com o projeto de combate à miséria. Em breve, deve se reunir com a presidente Dilma Rousseff para tratar de detalhes da proposta. Ela ainda tem dois deputados federais do DEM que podem seguir para o partido de Kassab caso tome esse caminho: o seu filho, Irajá Abreu, e a deputada Professora Dorinha, ambos do Tocantins.

Muitos políticos, entretanto, vão aguardar mais. Índio da Costa, por exemplo, que está sem mandato, tem tempo para decidir se será candidato a prefeito do Rio. Afinal, só precisa ser filiado a um partido político um ano antes da eleição. No caso dele, vale a máxima que os políticos levam ao pé da letra: quem tem tempo não tem pressa.