Título: Governo vai reunir Suez e Odebrecht para aparar arestas
Autor: Rittner , Daniel
Fonte: Valor Econômico, 13/08/2008, Empresas, p. B10

Lobão, ministro de Minas e Energia, defende o fim da disputa: "Tem que sair (da reunião) com o martelo batido" Depois de ameaças de que a Eletrobrás assumirá as obras das usinas no rio Madeira se houver uma batalha judicial, depois de acusações públicas de espionagem entre Suez e Odebrecht, o governo aposta agora em uma trégua negociada entre os consórcios Jirau Energia (liderado pela Odebrecht) e Energia Sustentável do Brasil (capitaneado pela Suez). O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, afirmou ter convocado uma reunião com os principais executivos da construtora, Marcelo Odebrecht, e da multinacional, Maurício Bähr, que deverá ocorrer até o fim desta semana.

"Tem que sair (da reunião) com o martelo batido", disse o ministro. Bähr garantiu ter "disposição total" para um acordo e jogou a bola para as mãos da Odebrecht, mas insistiu na defesa do novo projeto de engenharia apresentado para a hidrelétrica de Jirau, que muda em mais de nove quilômetros a localização original da barragem. "A otimização é um direito do empreendedor", afirmou o executivo. Ele disse contar com o "bom senso" no pedido de alteração do local e garantiu não ter feito qualquer tipo de consulta ao governo ou à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) sobre o direito ou a viabilidade de fazer a mudança.

Lobão demonstrou preocupação, durante cerimônia de assinatura do contrato de concessão da hidrelétrica de Jirau para o Enersus, com o risco de judicialização. E aproveitou a solenidade, no Palácio do Planalto, para pedir "civilidade" e um acordo entre os dois grupos. "Faço um apelo para que os consórcios se entendam", discursou. Ele disse desejar que "tudo se faça no melhor interesse dos empresários, mas fundamentalmente da nação".

Na semana passada, Lobão e a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, ameaçaram transferir à Eletrobrás a responsabilidade pelas obras de Jirau e até da usina de Santo Antônio, que obteve na segunda-feira a licença de instalação do Ibama, autorizando o início da construção. No entanto, as advertências não surtiram efeito concreto. Apesar disso, o governo acredita que os dois consórcios estão caminhando para um acordo, a fim de não "canibalizar" a disputa, com riscos de prejuízo para ambos os lados.

O Enersus - formado pela Camargo Corrêa, Eletrosul e Chesf, além da Suez - assinou ontem a concessão de Jirau e prometeu apresentar amanhã à Aneel o projeto executivo de engenharia da motorização da usina. Não há prazo fixado para que a agência e o Ibama façam as análises técnicas e ambientais da proposta, feita pelo Enersus, de alterar a localização da usina hidrelétrica. Em vez da Cachoeira de Jirau, originalmente indicada pelos estudos de viabilidade feitos pela Odebrecht, o grupo liderado pela Suez pretende construir a barragem na Ilha do Padre, próximo à Cachoeira do Inferno. O consórcio diz que isso permite uma economia de R$ 1 bilhão, além de minimizar impactos ambientais.

A Odebrecht entrou com uma interpelação judicial contra o presidente do Enersus, Victor Paranhos, cobrando uma retratação em até 48 horas pela acusação de "espionagem", feita em entrevista ao Valor publicada na edição de ontem. Paranhos evitou repetir o termo usado na primeira entrevista, mas em nova entrevista confirmou que dois documentos anexados pela Odebrecht no relatório - o cronograma detalhado das obras civis e a proposta comercial de entrega das turbinas pela empresa chinesa Dongfang - eram exclusivos do consórcio.

Os advogados da construtora contestam a informação e dizem na interpelação que o cronograma estava em um vídeo institucional distribuído pelo próprio Enersus. Quanto à proposta da Dongfang, alegam que a Odebrecht também recebeu uma proposta da fabricante chinesa para o fornecimento de turbinas.

A Odebrecht argumenta que os impactos ambientais da mudança defendida pela Suez são maiores do que tem sido divulgado pelo Enersus. O consórcio vencedor rebate e frisa que, no relatório apresentado pela construtora, há tabelas indicando que a própria Odebrecht já tinha um projeto alternativo à barragem em Jirau, com muito menos escavações e retirada de rochas. Seria, segundo acredita a Suez, uma indicação de que o próprio consórcio Jirau Energia, apesar das acusações, também estudava fazer a usina na Ilha do Padre.