Título: Saúde pauta disputa entre PSDB e PT em Teresina
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 19/08/2008, Política, p. A7

Sílvio Mendes: consulta para se licenciar do cargo de prefeito foi rejeitada pelo TSE Dois médicos com experiência política disputam a Prefeitura de Teresina, cientes de que a capital de um dos Estados mais pobres do país é referência para uma região administrativa bem maior do que a limitada pelos contornos da cidade. Por ser um dos principais pólos de atendimento de saúde da região, Teresina atende - além dos pacientes da capital - outros vindo do interior e até do Maranhão (especialmente daqueles municípios limítrofes distantes da capital São Luís, como Timon). Tanto o atual prefeito, Sílvio Mendes (PSDB e ex-presidente da Fundação Municipal de Saúde - FMS) quanto seu principal oponente, o deputado Nazareno Fonteles (PT e ex-secretário estadual de Saúde) têm a exata dimensão desse desafio.

Nessa disputa política, o PT terá o desafio de encerrar uma longa hegemonia tucana na capital do Piauí. Desde 1992, a cidade é administrada pelo PSDB. Naquele ano, assumiu a prefeitura Raimundo Wall Ferraz, que faleceu em 1995, antes de concluir o terceiro mandato de prefeito (os dois primeiros aconteceram em 1975/79 e 1985/1988). Depois dele, em 1996, a cidade passou por oito anos de administração do também tucano Firmino Filho (1996/2004). O próprio Mendes busca agora a reeleição, com larga vantagem. Na última pesquisa Ibope, o prefeito pontuou 67% dos votos válidos. E Fonteles ficou com apenas 15%.

A disputa também sintetiza o embate nacional: de um lado, o PT com um vice indicado pelo PMDB (Marcos Silva). Do outro, o PSDB com o DEM. A aliança entre petistas e pemedebistas parece estranha, já que no plano nacional o senador Mão Santa (PMDB-PI) é um dos críticos mais contumazes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Mas aqui não, ele se dá bem comigo. Em 1994, eu tive 11% dos votos no primeiro turno e assegurei o segundo turno entre o Mão Santa e o senador Alberto Silva. Mão Santa acabou sendo eleito com os votos do PT", diz Fonteles. Do outro lado, Mendes tem apoio do DEM, de Heráclito Fortes.

Fonteles conta com o início do horário eleitoral. Enquanto isso não acontece, mantém rotina de caminhadas pelas ruas da capital, tanto no centro quanto na periferia. Já são 38 desde que a campanha começou. "O Mendes não vai à rua. Eu aperto a mão de todo mundo", diz Fonteles. O atual deputado federal - está em seu segundo mandato - também se apóia em dois nomes de peso na política para garantir sua eleição: o governador reeleito do Piauí, Wellington Dias, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ambos com alta aceitação no eleitorado piauiense.

Prova disso é que o eleitorado do PT na capital aumentou exponencialmente nos últimos pleitos. Já teve 12%, 18%, e agora, 30% na intenção de votos espontâneos em legenda. "Mas isso não significa que temos os votos garantidos. O eleitor pode votar no PT, mas não há segurança que vota em todos os candidatos. Por isso, preciso fazer uma campanha de rua e um bom horário eleitora para suprir a falta de recursos da minha campanha", explicou.

O mote geral da campanha do petista é pensar Teresina como o centro de uma Região Integrada de Desenvolvimento Econômico (Ride), que envolve 14 municípios, incluindo Timon (MA) e um raio de aproximadamente 100 quilômetros do centro da cidade. "Teresina não pode ser pensada apenas sob seu próprio umbigo", disse, ao apontar esse como um dos principais vícios da longa administração tucana na capital.

Fonteles reclama que Teresina está muito aquém dos investimentos de que necessita e aposta na valorização da prestação de serviços (grande vocação da cidade) e no fortalecimento da agricultura familiar. "Temos uma gama de agricultores familiares à espera de incentivos, prontos para enfrentar esse momento de escassez mundial na oferta de alimentos", declarou ele. Em seu programa de governo, o deputado aproveitou um estudo feito pela Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf), que aponta 11 centros de desenvolvimento econômico em potencial no entorno da capital piauiense.

Enquanto Fonteles traça seu programa de governo, Mendes é obrigado a dividir seu tempo entre a prefeitura e a campanha. Ele fez uma consulta ao Tribunal Regional Eleitoral do Piauí e ao Tribunal Superior Eleitoral para ver se poderia se afastar do cargo para disputar as eleições, mas teve o pedido negado pelo relator do processo, ministro Joaquim Barbosa, à época no TSE. "Ser prefeito de uma cidade como Teresina exige dedicação integral. Assim como a campanha eleitoral. No meu caso, tenho que dividir essas duas dedicações integrais. Sou prefeito de dia e candidato de noite".

Ele supre esses problemas com a própria forma de administrar. "Sou muito sincero, tenho uma administração bastante transparente. Às segundas, quartas e sextas, não fico na prefeitura, vou para a rua acompanhar as ações do nosso governo". Ele se orgulha de investir, tanto em Saúde quanto em Educação, mais do que a legislação exige: em Educação, ele investe 28% das receitas do município enquanto a lei exige 25%. "Isso nos transformou na primeira capital do Nordeste e a sexta do país na avaliação feita pelo Ministério da Educação (Ideb)".

Já na Saúde, o município aplica 19,3% da receita ante os 15% previstos na Constituição. "Proporcionalmente, gastamos mais em atendimentos de alta complexidade com pessoas de fora da Capital do que com os próprios moradores de Teresina". Com um nível de investimentos totais que abarca 13,7% do orçamento da capital, Mendes sabe que a população hoje está mais focada em resultados. "Mais até do que disputas político-ideológicas". Em três anos e meio de mandato, o tucano elaborou diversos planos diretores em vários setores da cidade, como sistema viário, drenagem de águas pluviais, resíduos sólidos, além da continuação de um programa chamado Agenda 2015. "É um estudo de problemas e soluções para Teresina que começou em 1985", declarou o prefeito candidato.