Título: Plano para instalar 50 usinas nucleares divide opiniões
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Fonte: Valor Econômico, 15/09/2008, Brasil, p. A4

A previsão de construir de 50 a 60 usinas nucleares nos próximos 50 anos é uma demonstração da tendência mundial de aumentar o uso desse tipo de energia. Para o coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Nivalde de Castro, a declaração dada sexta-feira pelo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, foi uma interpretação qualitativa do cenário mundial, e não um planejamento efetivo.

A construção de novas usinas nucleares foi anunciada por Lobão, durante visita ao local onde será construída Angra 3 no município fluminense de Angra dos Reis. Ainda na sexta-feira, o presidente da Associação Brasileira de Energia Nuclear (Aben), Francisco Rondinelli, considerou prematuro se falar na construção de 50 ou 60 novas usinas nucleares, com mil megawatts (MW) de energia cada, no Brasil, nos próximos 50 anos. E o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, disse que o plano era uma posição pessoal de Lobão e não uma proposta do governo. Ele é contrário ao projeto.

Segundo o professor Castro, não há um planejamento para o setor energético nos próximos 50 anos, mas a expectativa é que, assim como nos outros países, o Brasil amplie significativamente a participação da energia nuclear em sua matriz energética, especialmente porque tem grandes reservas de urânio e capacidade de enriquecimento do elemento.

O Plano Nacional de Energia 2030, que estabelece tendências e alternativas para as próximas décadas, prevê que a participação da energia nuclear na matriz energética brasileira passe dos 2,7% registrados em 2005 para 4,9% em 2030. O documento aborda a importância da energia nuclear para a matriz brasileira nos próximos anos. "As preocupações crescentes com a segurança energética e as pressões ambientais, sobretudo com relação às emissões de gases de efeito estufa, têm recolocado a opção nuclear na agenda dos fóruns mundiais de energia, em geral, e dos países desenvolvidos, em particular", aponta o Plano.

Para o coordenador da Campanha de Energias Renováveis do Greenpeace, Ricardo Baitelo, em vez de construir mais usinas nucleares, o Brasil deveria investir em fontes de energia renováveis, como os ventos, o sol e a biomassa. Ele admite que é preciso ampliar a matriz energética brasileira, mas garante que isso pode ser feito sem a utilização da energia nuclear. "Não é necessário ter nenhuma participação da energia nuclear na matriz brasileira, porque as energias renováveis são mais seguras, mais baratas e com impacto mínimo ambiental em relação à energia nuclear", afirma.

Segundo ele, o custo de instalação de uma usina nuclear chega a ser quatro vezes maior que o de um parque eólico. Além disso, Baitelo lembra o problema da falta de alternativas para o armazenamento do lixo nuclear. "É um passivo ambiental deixado para as gerações futuras, e o custo de estudar alternativas de depósitos não está incluído na tarifa", argumenta.

A tarifa da energia nuclear é considerada a terceira mais barata - o megawatt/hora custa entre R$ 140 e R$ 160. Antes dela vem a por hidrelétricas (entre R$ 80 e R$ 120 o megawatt/hora) e por térmicas a gás natural, que custam cerca de R$ 140 o megawatt-hora.