Título: Alckmin e a briga por uma vaga no segundo turno
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Fonte: Valor Econômico, 17/09/2008, Opinião, p. A12

A menos de 20 dias das eleições municipais, estampa-se com clareza o impasse do PSDB paulistano. O candidato tucano, Geraldo Alckmin, assumiu um discurso agressivo em relação ao prefeito Gilberto Kassab (DEM), candidato à reeleição, numa luta de "tudo ou nada" pelo segundo lugar na disputa de primeiro turno e, portanto, pela chance de disputar a prefeitura com a candidata do PT, Marta Suplicy, no segundo turno.

O discurso acusatório de Alckmin contra Kassab, embora possa ser considerado inadequado para um candidato que sempre teve a seu favor uma baixa rejeição e a imagem de "bonzinho", tem alguma lógica. Alckmin caiu na arapuca do partido dividido entre a sua candidatura e a do candidato do Democratas, manteve um discurso neutro e aos poucos foi perdendo espaço num cenário em que tanto Marta Suplicy como Kassab escolheram com quem polarizar: um com o outro. O "diálogo" entre o atual e a ex-prefeita - ela, acusando-o de mentiroso; ele, taxando-a de incompetente -, além da visibilidade que a propaganda gratuita deu ao atual prefeito, que não a tinha, abriu a Kassab espaço para crescer. E ele cresceu, sobretudo, à custa de Alckmin. Segundo o Datafolha, desde o início da propaganda eleitoral gratuita, as intenções de voto em Alckmin caíram 12 pontos percentuais; Kassab subiu 10 pontos no mesmo período.

Ao que tudo indica, a aprovação à administração de Kassab começou a colar na sua candidatura apenas com a propaganda eleitoral gratuita - e a propaganda, por sua vez, resultou também no aumento da aprovação ao seu governo. Em junho, a taxa de ótimo e bom de seu governo era de 35%; no início da campanha eleitoral pulou para 40%; e na semana passada bateu os 50%. Era natural que isso acontecesse: o candidato do DEM era um desconhecido do eleitor, que votou para prefeito em José Serra, em 2004, e herdou o seu vice quando o tucano decidiu ser candidato ao governo do Estado, em 2006. Kassab nunca tinha participado como cabeça de chapa de uma eleição majoritária e tem um perfil discreto. Não fez uma administração que "concorresse" com seu antecessor, mas se manteve como um "serrista" à frente da Prefeitura. Embora fosse esperado que um prefeito com taxa de aprovação alta alcançasse, em algum momento, pelo menos os dois dígitos nas pesquisas de intenções de voto, Kassab acabou crescendo o suficiente para ser uma ameaça efetiva a Alckmin.

Na propaganda de segunda-feira, já com um novo marqueteiro - Lucas Pacheco foi substituído pela dobradinha Raul Cruz Lima e Marcelo Simões -, Alckmin mirou na testa de Kassab: "Quero muito, muito ser prefeito. Sabem para quê? Pra gente retomar o projeto do PSDB que foi interrompido. Não avançou nos últimos dois anos. Os problemas da saúde, principalmente, se agravaram muito com Kassab", afirmou. Ontem, os jornais noticiavam a intenção da direção da campanha de centrar fogo nas relações pretéritas entre Kassab e Maluf - este, nas pesquisas, com um favoritismo imenso, de 65%, quando a pergunta é "quem é o mais corrupto". Embora este seja um vínculo que Kassab certamente não deseja que seja estabelecido, o ataque é um risco para ele, mas também para Alckmin. Uma agressão frontal de Alckmin pode garantir a ele a vaga no segundo turno, possibilidade hoje ameaçada pelo atual prefeito, mas pode também afugentar os eleitores alckministas atraídos pela imagem cordial do ex-governador. E, se garantir a Alckmin a vaga para disputar com Marta, no segundo turno, a prefeitura paulista, pode queimar as pontes para obter o apoio da coligação que apóia o candidato do DEM.

Nessa fase da campanha, Kassab conseguiu polarizar com o PT e arregimentar votos antipetistas sem ter que confrontar possíveis aliados no segundo turno, se conseguir chegar lá. Alckmin ficou sem essa alternativa. Com o partido dividido e os candidatos do DEM e do PT conversando entre si e excluindo os demais, o tucano está pagando o preço por bancar a sua candidatura rachando a aliança entre PSDB e DEM, que é hegemônica no Estado desde a vitória de Serra para a prefeitura, quando, pela primeira vez, o partido ocupou ao mesmo tempo os executivos estadual e municipal.