Título: Incrementar nossa relação econômica com Portugal :: Paulo Skaf
Autor:
Fonte: Gazeta Mercantil, 17/10/2008, Opinião, p. A3

17 de Outubro de 2008 - Em 2008, comemoramos no Brasil os 200 anos da chegada da Família Real Portuguesa ao Rio de Janeiro. D. João VI, mais do que elevar nosso País à condição de Vice-Reino, desencadeou uma série de avanços, instituindo o Poder Judiciário, o Banco do Brasil, a indústria gráfica e as primeiras manufaturas.

A presença da corte já demonstrava algo cada vez mais evidente: as relações entre Portugal e Brasil não têm em comum apenas o belo idioma que falamos. Quinhentos e oito anos de história são compartilhados por nosso povo.

A cultura portuguesa é o grande paradigma da brasileira. A religiosidade, a culinária, a música, o espírito fraterno e a capacidade empreendedora dos lusitanos, tão bem expressa na ousadia das grandes navegações, constituem traços marcantes do Brasil.

As ligações entre nossos países são de tal maneira fortes que Portugal também assimila influências da cultura contemporânea brasileira.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nos primeiros dois séculos de colonização cerca de 100 mil portugueses emigraram para o Brasil. No século seguinte, o número aumentou para 600 mil. O ápice do fluxo migratório ocorreu entre 1901 e 1930, quando a média anual de emigrantes ultrapassou a barreira dos 25 mil portugueses. Hoje, somente em São Paulo vivem cerca de 3 milhões de portugueses e descendentes.

Há, aproximadamente, 700 mil pessoas de nacionalidade portuguesa, incluindo os cidadãos binacionais, vivendo em território brasileiro. Este dado é do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal.

Apesar de toda essa ligação histórica, os números do comércio bilateral luso-brasileiro estão muito aquém do potencial. Por isto, 508 anos depois da chegada de Pedro Álvares Cabral à costa do Brasil e dois séculos após o desembarque da Família Real no Rio de Janeiro, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) fará o caminho inverso, comandando missão comercial a Portugal, de 18 a 21 de junho do próximo ano.

Queremos ampliar o comércio entre os dois países, que, é verdade, apresentou crescimento de 20% de 2006 para 2007 e de 50% nos últimos dez anos. No entanto, o valor do intercâmbio bilateral tem girado anualmente em torno de apenas US$ 2 bilhões, o que é um valor ainda pequeno, em especial se considerarmos a amplitude das possibilidades abertas. Números mais recentes relativos ao período janeiro-agosto deste ano revelam que as exportações brasileiras para o mercado português alcançaram US$ 1,252 bilhão, enquanto as importações daquele país foram de US$ 424,7 milhões. Ou seja, o saldo favorável foi de US$ 827,3 milhões.

Estudos do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Derex) da Fiesp evidenciam as imensas oportunidades, em áreas estratégicas para ambas as nações: alimentação e bebidas, indústria automobilística, metalurgia, pavimento e revestimento, têxtil, borracha e plástico, máquinas e equipamentos, móveis, produtos em madeira, vestuário e calçado, cerâmica, material de construção, produtos médicos, farmacêuticos e cosméticos, vidro, embalagem, logística, material elétrico e eletrônico, papel, cartão, impressão e produtos químicos. Um detalhe relevante é que essas possibilidades incluem as pequenas e médias empresas e não focam apenas o comércio, mas também o estabelecimento de parcerias e joint ventures.

Vale mencionar que os investimentos diretos de Portugal no Brasil não têm sido insignificantes. De acordo com números do Banco Central (BC), os investimentos diretos de empresas portuguesas no Brasil somaram US$ 517 milhões. Em 2008, no período janeiro-agosto, tais investimentos alcançaram US$ 924 milhões, ou seja, 78,7% a mais que em todo o ano passado. Uma área em que as empresas portuguesas têm investido muito no Brasil, nos últimos anos, tem sido a de hotéis e empreendimentos turísticos.

Devemos trabalhar muito para ampliar as relações bilaterais, de maneira que Portugal e Brasil possam ser efetivos parceiros no desenvolvimento. Que nossos laços históricos e culturais e a interação solidária de nossos povos constituam-se, cada vez mais, em diferenciais competitivos de nossos países na economia globalizada.

kicker: Os números do comércio luso-brasileiro estão muito aquém do seu potencial

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 3) PAULO SKAF* - Presidente da Federação e do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Próximo artigo do autor em 7 de novembro)