Título: Lula quer retomar negociações de Doha
Autor: Filho, José Pacheco Maia
Fonte: Gazeta Mercantil, 29/10/2008, Nacional, p. A5

Salvador, 29 de Outubro de 2008 - A crise financeira internacional esteve na pauta da IX Reunião de Cúpula Brasil-Portugal, realizada ontem em Salvador. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em pronunciamento, destacou a necessidade da insistência no comércio, nos investimentos e nas parcerias para não se cair na espiral do derrotismo e da especulação. "Hoje, mais do que nunca, precisamos insistir na conclusão das negociações da Rodada de Doha." Para ele, um acordo agora enviaria um forte sinal positivo da capacidade de articulação da comunidade internacional. "É, também, o momento de desemperrar as negociações comerciais entre o Mercosul e a União Européia".

O primeiro-ministro de Portugal, José Sócrates, em concordância com Lula, disse que seu país está empenhado no desenvolvimento do processo de aproximação do Mercosul com a União Européia e defendeu a reabertura das negociações da Rodada de Doha. "Precisamos ativar o comércio com regras mais justas", afirmou.

Para Lula, Brasil e Portugal estão tomando as medidas necessárias para navegar na crise com o mínimo de sobressaltos. "No Brasil estamos dando seguimento ao Plano de Aceleração do Crescimento, que ajudará a manter o nível das atividades produtivas e os empregos. Ao mesmo tempo, contribui diretamente para a modernização da infra-estrutura econômica do nosso país".

José Sócrates, por sua vez, disse que, para mitigar os efeitos da crise, é preciso dar tranqüilidade ao sistema bancário. "Em Portugal e na Europa, houve inversão de capital nos bancos para evitar a falta de liquidez. É necessário dar confiança ao sistema financeiro nacional".

Na opinião do presidente brasileiro, este é um momento para a reflexão coletiva por parte de todos os países, ricos e pobres. "Na Cúpula do G-20, financeira, em Washington, dentro de duas semanas, precisamos tomar a decisão de iniciar as urgentes reformas estruturais do sistema financeiro internacional que venho defendendo há muito tempo", disse.

Na avaliação de Lula, a presença do Brasil nessa discussão prova que as economias emergentes não podem mais ser ignoradas. "Temos, acima de tudo, a responsabilidade de defender os interesses dos países mais pobres, que serão os mais prejudicados se não agirmos rapidamente, para evitar o agravamento do caos financeiro global".

Lula agradeceu o apoio português à candidatura do Brasil a integrar o grupo de novos membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU. "Entendemos esse gesto como expressão de confiança na capacidade de o Brasil contribuir para essa nova arquitetura que se faz necessária".Para Lula, Portugal pode, junto à União Européia, fazer a força política que precisa fazer, e o Brasil na América Latina e no G-20.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 5)(José Pacheco Maia Filho)