Título: A mais grave crise
Autor: Oliveto, Paloma
Fonte: Correio Braziliense, 14/03/2011, Mundo, p. 12

Natureza em fúria Governo anuncia racionamento de energia e controle da especulação nas bolsas

O Japão vive o seu pior momento desde a Segunda Guerra Mundial, declarou ontem o primeiro ministro Naoto Kan, dois dias após o maior terremoto da história do país. Ao informar que a situação continua muito grave na usina nuclear de Fukushima 1, ele avisou que haverá grandes cortes programados de eletricidade. ¿Considero a situação atual, de certa forma, como a mais grave crise que enfrentamos nos últimos 65 anos¿, resumiu Kan.

A tragédia que acarretou a paralisação de várias usinas nucleares comprometerá o fornecimento de energia nas próximas semanas, além de implicar em novas importações de gás, carvão e petróleo. A Tokyo Electric Power Company (Tepco) anunciou ontem que vai iniciar hoje racionamento de energia elétrica em consequência dos danos causados pelo sismo de sexta-feira, seguido de tsunami. As interrupções devem durar até o fim de abril, conforme plano aprovado pelo primeiro ministro.

As províncias de Tóquio, Chiba, Gunma, Ibaraki, Kanagawa, Tochigi, Saitama, Yamanashi e parte de Shizuoka serão afetadas, segundo a companhia energética. Ela ressaltou que a região central da capital japonesa será poupada. O ministro da Indústria, Banri Kaieda, acrescentou que as regiões leste e nordeste do país devem se preparar para enfrentar ¿situação anormal¿ de falta de energia.

Conforme cronograma elaborado pelo governo, os cortes de energia obedecerão escala de três horas por dia nas cidades da região nordeste, a mais atingida pelo terremoto. As pessoas serão comunicadas antecipadamente sobre os blecautes.

Tetsuhiro Hosono, chefe da Agência de Recursos Nacionais e Energia, calcula que a situação pode durar ¿muitas semanas¿ e aproveitou para conclamar as grandes empresas a economizar energia. Ele afirmou que governo e fornecedoras se esforçarão para diminuir o impacto do racionamento na vida das pessoas.

Contas amargas O governo japonês criou três comissões para lidar com a crise. A primeira vai estudar os problemas energéticos, como a necessidade de contenção das usinas nucleares que ainda apresentam riscos de explosão. A segunda tratará do ordenamento dos trabalhos de socorro às vítimas a serem desenvolvidos por voluntários. A última vai estudar a situação da economia e as medidas que serão tomadas para minimizar ao máximo as consequências da tragédia para a indústria.

Apesar disso, o governo já antecipou que o desastre natural terá impacto ¿considerável¿ na economia do país. Com as informações sobre o tamanho dos danos ficando mais claras, estima-se mais de 3,4 mil edifícios destruídos. Ao menos 5,6 milhões de lares estão sem eletricidade, sem considerar as interrupções anunciadas.

Depois do mercado apostar no gasto de US$ 50 bilhões pelas seguradoras em razão dos prejuízos ao Japão, a empresa norte-americana especializada na avaliação de riscos AIR Worldwide apresentou ontem sua estimativa inicial, de até US$ 34,6 bilhões. Para seus técnicos, os danos a propriedades privadas somam, no mínimo, US$ 14,5 bilhões. A ressalva é que muitos dados ainda estão indisponíveis, o que pode elevar prognósticos.

A seguradora norte-americana Eqecat ponderou, por sua vez, que os prejuízos econômicos decorrentes do terremoto continuam subindo. Por enquanto, seus estudos apontam perdas totais acima de US$ 100 bilhões. Apenas a conta dos lares superará US$ 20 bilhões, afirmou seu relatório.

O dano registrado em instalações comerciais também é grande e fábricas de empresas como Honda, Toyota, Nissan e Sony não estão operando. Esse prejuízo pode ficar acima de US$ 20 bilhões. As infraestruturas danificadas somam pelo menos US$ 30 bilhões, ao que é preciso somar os prejuízos de US$ 10 bilhões por perdas em instalações de portos e de navios.

Apoio ao mercado O Banco Central (BC) do Japão prevê realizar hoje uma injeção "em massa" de capital nos mercados, para ajudá-los a estabilizar-se depois da catástrofe. A autoridade monetária promete acompanhar atentamente a situação e fazer todo o possível para oferecer liquidez e garantir a estabilidade. O Comitê de Política Monetária do BC japonês também analisará as repercussões da tragédia na economia. As bolsa de Tóquio e Osaka e os demais mercados financeiros vão abrir normalmente, mas o governo promete ficar atento a possíveis tentativas de especulação.