Título: Rebeldes acuados
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Fonte: Correio Braziliense, 16/03/2011, Mundo, p. 19

Forças leais a Kadafi avançam em direção a Benghazi, derradeiro reduto insurgente

Os rebeldes líbios sofreram ontem duas amargas derrotas: a perda de duas importantes cidades no leste, tomadas por forças leais a Muamar Kadafi, e a desistência das potências do G8 (sete potências ocidentais mais a Rússia) de criar uma zona de exclusão aérea na Líbia, que limitaria os recursos militares do ditador.

Kadhafi chegou a afirmar ontem, em uma entrevista ao jornal italiano Il Giornale, que os rebeldes ¿perderam a batalha¿. Ontem à noite, testemunhas disseram ter ouvido tiros de canhões e de artilharia pesada algum tempo depois de o exército líbio anunciar uma ofensiva em Benghazi, principal reduto insurgente. Forças aliadas avançam pela costa para reconquistar cidades tomadas pelos rebeldes. Mal equipados, os rebeldes se veem superados por tanques, artilharia e aviões de guerra e são forçados a recuar até Benghazi.

A cidade de Ajdabiyah caiu após um bombardeio pesado de forças terrestres. Ajdabiyah era o único obstáculo que se interpunha no avanço das tropas governamentais em direção a Benghazi. Já o porto petrolífero de Brega foi tomado após uma manhã de combates em que o domínio mudou várias vezes de um lado para outro.

Na mesma entrevista ao jornal italiano, Kadafi descartou qualquer negociação com as forças insurgentes. O líder líbio disse ainda estar ¿muito decepcionado¿ com a Europa. Quanto ao líder italiano, o primeiro-ministro Silvio Berlusconi, Kadafi declarou sentir-se ¿traído¿. Em entrevista a uma emissora alemã, Kadafi disse que Sarkozy ¿ficou louco¿. ¿Ele é meu amigo, mas acho que ele está sofrendo de uma doença psicológica¿, afirmou o ditador à rede RTL.

Na quinta-feira passada, a França foi o primeiro ¿ e único ¿ país a reconhecer formalmente a oposição a Kadafi, ao mesmo tempo em que defendia ataques aéreos seletivos na Líbia. Ontem, porém, o país, presidente em exercício do G8, não conseguiu convencer seus sócios a estabelecer uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia. Os ministros de Relações Exteriores do G8, reunidos em Paris, se limitaram a pedir novas sanções econômicas do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) para aumentar a pressão sobre o ditador líbio.

Os EUA, que também não apoiam a intervenção militar, afirmaram ontem que estavam explorando formas de liberar alguns bilhões de dólares de bens congelados do governo do líder líbio para ajudar a oposição da Líbia.

Barein No dia seguinte à chegada de tropas de países do Golfo para ajudar a conter a onda de contestação xiita, o Barein proclamou ontem estado de emergência. Preocupados com a situação, líderes xiitas fizeram um apelo à comunidade internacional para que se evite um ¿massacre¿ nas manifestações no reino, que ontem deixaram dois mortos ¿ um manifestante e um policial.

Apesar da proclamação do estado de emergência, milhares de xiitas se reuniram diante da embaixada saudita para protestar contra a chegada das tropas desse país. As unidades mobilizadas pertenciam ao ¿Escudo da Península¿, uma força conjunta dos países do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG, composto por Arábia Saudita, Barein, Emirados Árabes Unidos, Omã, Catar e Kuweit). Mais de 60% dos barenitas são xiitas que se queixam de discriminação por parte da família real sunita.