Título: BC vê muita incerteza
Autor: Freitas, Jorge ; Caprioli, Gabriel
Fonte: Correio Braziliense, 18/03/2011, Economia, p. 6

A recente disparado dos preços do petróleo e a tragédia no Japão são elementos novos que aumentaram o grau de complexidade na definição da política de juros do país, segundo alerta foi feito ontem pelo presidente do Banco Central, Alexandre Tombini. No seu entender, a valorização de até 24% nas cotações do óleo desde o início de manifestações em países árabes ¿ alta que pode ser maior caso o Japão substitua a sua matriz energética, de nuclear, por gás e petróleo ¿ criou um fator de incerteza sobre as expectativas de inflação e o crescimento global.

¿Esses movimentos ainda estão sujeitos a mais surpresas, caso os grandes produtores não consigam nivelar a oferta global de petróleo¿, afirmou Tombini em discurso na cerimônia de posse de Murilo Portugal na presidência da Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Ele ressaltou ainda que as consequências do terremoto e do tsunami no Japão poderão levar à transferência de dinheiro de japoneses aplicado no Brasil, empurrando os preços do dólar para cima, o que adicionará mais pressão à inflação.

Portanto, destacou o presidente do BC, a instituição deve observar atentamente o quadro internacional e seu efeito sobre o ciclo global de crescimento e a inflação. Para Tombini, o quadro atual da economia exige ¿um esforço analítico mais sofisticado do que o usual¿, pois há pressões correndo simultaneamente em direções opostas. No caso da inflação doméstica, além da alta das commodities (mercadorias com cotação internacional) desde a segunda metade de 2010, há uma pressão persistente no setor de serviços, devido ao fortalecimento do emprego e da renda. A junção desses fatores cria um descompasso entre a oferta e a demanda. Ele admitiu que a inflação acumulada em 12 meses deve seguir elevada nos próximos meses, caindo somente no fim do ano.

Cobrança da Febraban O novo presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Murilo Portugal, elogiou a decisão do Banco Central de conjugar medidas macroprudenciais e alta dos juros para conter o consumo e reduzir as pressões inflacionárias que atormentam o país. ¿As medidas são bem-vindas e devem aumentar ainda mais a robustez do sistema financeiro nacional¿, disse. Ele cobrou, no entanto, tratamento igualitário por parte do governo para os bancos públicos e os privados.