Título: Desafios dos fundos de pensão em 2009
Autor: Lacerda, Guilherme Narciso de
Fonte: Gazeta Mercantil, 22/12/2008, Opinião, p. A3

22 de Dezembro de 2008 - A atual crise econômico-financeira mundial representa um dos maiores desafios que os fundos de pensão brasileiros enfrentam em suas histórias. A profunda turbulência e o forte impacto nas estruturas produtivas apontam quedas nos ritmos de crescimento de praticamente toda a economia global.

Tal como as demais economias emergentes, a brasileira é afetada por esta nova realidade e impõe a necessidade de adotar medidas adaptativas, tanto por parte dos formuladores de políticas como, também, por parte dos agentes econômicos.

Os fundos de pensão brasileiros também terão que se adaptar. Felizmente, o setor está bem posicionado para fazer tais ajustes e é provável que atravesse essa forte turbulência sem sobressaltos maiores, diferente do que está ocorrendo em outros países.

As grandes dificuldades do passado, as fases de má gestão, a baixa centralidade política de que era alvo e a própria convivência com períodos muito tumultuados impuseram ajustes forçados. E, por fim, o setor beneficiou-se da maturidade dos seus participantes (organizados por segmentos ou por empresas), os quais negociaram ajustes de planos de benefício e entenderam a natureza de risco inserida em contratos previdenciários.

Esta evolução foi fruto de intensas negociações corporativas e diferencia a realidade brasileira da norte-americana, por exemplo.

No entanto, nesse período de instabilidade econômica, intensifica-se o debate em torno da saúde financeira dos fundos e, volta e meia, há comentários alarmistas de que o setor teve perdas de grande dimensão.

Essa avaliação simplista não é correta e pode induzir a erros. O perfil de liquidez dos investidores corporativos obedece a princípios bem definidos em termos de diversificação de risco e conhecimento técnico dos requisitos fundamentais das aplicações, seja de títulos de crédito privado, seja de participações acionárias ou de qualquer outra ordem.

A boa fase da economia brasileira alcançada nos últimos cinco anos, a gestão de qualidade e a satisfatória regulação desta indústria no Brasil têm permitido resultados formidáveis à grande maioria dos fundos de pensão. Nesse período, foi possível fazer ajustes em tábuas de expectativas de vida, nos percentuais das taxas de desconto das metas atuariais e as devidas provisões para eventuais perdas futuras.

Inclusive, neste conturbado momento que vivenciamos, os investidores brasileiros podem encontrar muitas oportunidades de valorizações excepcionais no futuro.

A melhor prática para investidores corporativos que lidam com recursos previdenciários é atuar de forma conservadora, sem perder a perspectiva das oportunidades. Para 2009, a expectativa é de continuarmos convivendo com volatilidade alta nos mercados.

Porém, será recomendável que investidores institucionais, como são os fundos de pensão, passem a olhar investimentos associados a projetos atrativos, vinculados a financiamentos corporativos privados.

Até agora, a presença deste modelo foi modesta, especialmente por parte da maioria dos fundos pequenos e médios. Esses estão ainda muito amarrados às linhas de orientação definidas pelo setor financeiro.

Há necessidade de que a economia brasileira conviva com taxas de juros reais mais baixas, caso contrário não haverá meios de redirecionar recursos para investimentos produtivos. Portanto, os fundos de pensão - especialmente aqueles médios e pequenos - terão que reorganizar suas prioridades na gestão dos ativos.

Enfim, é possível admitir que o nosso país sairá relativamente maior deste ambiente para se consolidar como um ator importante no mundo. Com essa perspectiva, os fundos de pensão poderão demonstrar com mais nitidez sua importância institucional para seus participantes e para o desenvolvimento nacional.

kicker: Desempenhonos últimos anos fortaleceu os investidores institucionais

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 3) GUILHERME NARCISO DE LACERDA* - Presidente da Fundação dos Economiários Federais (Funcef))