Título: Brasil, EUA e o jogo do equilíbrio
Autor: Azedo, Luiz Carlos
Fonte: Correio Braziliense, 19/03/2011, Política, p. 14

Artigo

Sete meses atrás, mais de 78 mil torcedores, muitos deles com camisas amarelas, abarrotaram o estádio New Meadowlands, em Nova Jersey, para ver um jogo amistoso das seleções de futebol do Brasil e dos Estados Unidos. Foi um dia especial aquele 10 de agosto. Não só porque o jogo leal praticado por ambos os times contribuiu imensamente para que a Seleção Brasileira (com Neymar, Pato e Cia.) pudesse recuperar a alegria no futebol. Também porque celebramos com nossos parceiros norte-americanos uma antiga e auspiciosa amizade. Naquele dia, cantamos e nos divertimos juntos.

Para sorte mútua, as boas relações de Brasil e Estados Unidos vão muito além dos campos. Na seara econômica e na da produção, por exemplo, juntos jogamos um bolão. Entre 2005 e 2010, os EUA investiram US$ 33,3 bilhões no Brasil, volume recorde entre nossos parceiros. Em contrapartida, as 44 maiores empresas de capital norte-americano presentes no Brasil em áreas das mais diversas (automotiva, energia elétrica, eletrodomésticos, petroquímica, farmacêutica, siderurgia etc.) apuraram em 2009 uma receita líquida total de US$ 86,3 bilhões. Podemos dizer que o jogo foi bom para ambos os lados.

Acredito firmemente que a visita que o presidente Barack Obama faz ao Brasil terá como viga mestre a reafirmação da importância desse equilíbrio nas relações entre os dois países. O presidente Obama chega num momento oportuno, o início do governo da presidente Dilma Rousseff, o que inspira um forte sinal de prestígio do Brasil nos Estados Unidos. E é bom que seja assim, pois os presidentes Dilma e Obama precisarão jogar afinados para reconhecer que, nos campos das relações internacionais e do comércio, tanto o Brasil quanto os Estados Unidos devem priorizar com mais ênfase o parceiro.

Na balança comercial, a situação que ora vivemos é preocupante. Enquanto as exportações de produtos brasileiros para os EUA caíram de US$ 24,5 bilhões em 2006 para US$ 19,3 bilhões em 2010 (queda de 21%), no mesmo período as compras do Brasil no mercado norte-americano saltaram de US$ 14,7 bilhões para US$ 27 bilhões (aumento de 84%). Há que levar em conta, por certo, dois fatores que influenciaram sobremaneira nesses resultados: os EUA infelizmente não superaram ainda a crise financeira de 2008 e o Brasil, por seu turno, passa por um período de aguda distorção no câmbio, em que a grande valorização do real facilita as compras no exterior e ao mesmo tempo dificulta as exportações.

Para além desses dois elementos sazonais, contudo, há um dado quase sombrio: a participação de bens manufaturados nas exportações para os Estados Unidos caiu de 73% em 2004 para 52% no ano passado. Isso significa que estamos vendendo produtos menos elaborados e, por conseguinte, com menor valor agregado, além de reduzida capacidade de geração interna de empregos. O petróleo é um exemplo: há sete anos, o produto representava 3,2% da pauta de exportações para os EUA; em 2010, o percentual foi de 19,9%.

Agora, os parceiros de longa data precisam, juntos, realinhar essa balança.

Seria um erro, entretanto, restringir a viagem do presidente Barack Obama ao Brasil a uma pauta de problemas a serem sanados. As oportunidades para Brasil e EUA são muitas e devem ser exploradas. Ambos os países têm muito a lucrar investindo juntos na exploração do pré-sal. Assim como também é justo que o Brasil mereça de seu parceiro condições equânimes no comércio do etanol, do algodão e do suco de laranja. Brasília e Washington devem dar prioridade à busca de uma solução para a questão China, um tema afeto aos dois países e que pede um olhar conjunto.

Em resumo, estou convicto de que, mais do que nunca, grandes e nobres interesses unem Brasil e Estados Unidos. Não falta boa vontade de um ou de outro lado. E todos temos a ganhar com a evolução das relações e, sobretudo, com a construção de novas pontes que reforcem a união das duas nações. É, portanto, com o espírito aberto e alvissareiro que esperamos pela chegada do presidente Obama.

Em tempo: naquele 10 de agosto, para quem não se lembra, o Brasil ganhou por 2 x 0.

* Paulo Skaf é presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp)