Título: Governo acredita em xenofobia no ataque à brasileira na Suíça
Autor: Aliski,Ayr ; Correia,Karla
Fonte: Gazeta Mercantil, 13/02/2009, Brasil, p. A6

13 de Fevereiro de 2009 - O governo brasileiro entendeu como um caso de xenofobia o ataque à advogada brasileira Paula Oliveira, que sofreu um aborto depois de ser torturada na última segunda-feira em Zurique (Suíça). Essa situação, segundo o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, pode estabelecer uma situação de crise entre Brasil e Suíça, países que tradicionalmente mantém boas relações. "Há uma aparência muito evidente de xenofobia", disse Amorim. O ministro pediu rigor na apuração, julgamento e punição dos culpados.

Amorim disse que os próximos passos do governo brasileiro dependem da atitude que o governo suíço tomar, ou seja, do que vai ocorrer com os agressores. As ponderações do governo brasileiro foram passadas ao encarregado de negócios da embaixada da Suíça no Brasil, Claude Crottaz, pelo secretário do Departamento das Comunidades Brasileiras no Exterior, Eduardo Gradilone. De acordo com a assessoria de imprensa do Itamaraty, Crottaz lamentou o ocorrido e assegurou que o governo suíço investigará o caso da melhor maneira possível.

Ao tomar conhecimento da agressão a Paula Oliveira, o Itamaraty acionou o consulado brasileiro em Zurique, a embaixada do Brasil na Suíça, em Berna, e a chancelaria da Suíça em Brasília. A idéia foi deixar bastante claro às autoridades suíças a indignação do Brasil em relação ao caso. Amorim nega oficialmente, mas o Brasil considera a possibilidade de encaminhar uma carta ao alto comissariado de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), denunciando a agressão e também a displicência inicial da polícia suíça.

Na avaliação do ministro, qualquer forma de agressão à brasileira seria objeto de repulsa, mas uma vez configurada situação de ódio a estrangeiros, o caso transforma-se em uma agressão ainda mais violenta.

"Se for uma agressão de natureza xenofóbica, isso será um agravante que terá de ser levado em consideração", disse o chanceler brasileiro. "É preciso que fique muito claro que haverá uma investigação sobre todos os aspectos."

No primeiro relatório oficial sobre o caso, divulgado ontem, a polícia suíça evitou falar em crime de cunho racista e limitou-se a declarar que as circunstâncias que levaram aos ferimentos inflingidos a Paula Oliveira "são vagas". O comunicado oficial não informa detalhes descritos pela advogada, como o cabelo raspado, as roupas e a tatuagem de suástica feita na nuca de um dos agressores. Também não menciona as letras SVP - sigla em alemão de Schweizerische Volks Partei, ou Partido do Povo Suíço, identificado com a extrema direita no país e defensor do cerco a imigrantes.

No local do crime foi realizado um amplo trabalho de detecção de pistas e vestígios. No momento não é possível dar nenhuma informações sobre o exame de corpo de delito. As circunstâncias exatas do crime ainda não estão esclarecidas. A Polícia de Zurique investiga em todas as direções

A consulesa-geral do Brasil na Suíça, Vitória Cleaver, disse ontem em conversa por telefone com o ministro Celso Amorim, ontem pela manhã, que a relação com o governo suíço teria melhorado, passado um momento inicial de dificuldade na comunicação com os órgãos policiais suíços. De acordo com informações obtidas no plantão de emergência do consulado, Vitória Cleaver acompanhou pessoalmente o segundo depoimento de Paula Oliveira à polícia de Zurique. O pai da brasileira vítima de agressão, o assessor parlamentar Paulo Oliveira, estava no hospital onde a brasileira foi interrogada.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 6)(Ayr Aliski e Karla Correia)