Título: Portugal afunda na crise
Autor:
Fonte: Correio Braziliense, 24/03/2011, Economia, p. 17

Primeiro-ministro José Sócrates renuncia ao cargo após derrota no Parlamento e país pode recorrer ao FMI

Depois de fracassar na tentativa de aprovar o quarto pacote de austeridade para tirar Portugal da rota da quebradeira generalizada, o primeiro-ministro José Sócrates renunciou ao cargo. O pedido de demissão foi apresentado na noite de ontem, menos de duas horas após a rejeição, pelo Parlamento, de seu novo programa de corte de gastos. Em tom sombrio, Sócrates advertiu, antes de deixar o poder, que a crise política terá ¿consequências gravíssimas¿ para o país. A expectativa é de que, mergulhada em dívidas, a nação ibérica recorra à ajuda do Fundo Monetário Internacional (FMI) e da União Europeia (UE).

Os cinco partidos da oposição, da extrema-esquerda à direita, votaram em uníssono para condenar o quarto plano de austeridade em menos de um ano. A iniciativa tinha o objetivo de garantir a redução dos deficits públicos e evitar a ajuda externa ao país. Em um discurso feito após cinco horas de debates no Parlamento, o ministro porta-voz do governo, Pedro Silva Pereira, denunciou a ¿irresponsabilidade¿ de uma ¿coalizão negativa¿ contra o governo.

Incapacidade De forma muito dura, Pereira condenou uma ¿coalizão voltada para o FMI, porque é para lá que Portugal vai¿, e destacou que, ¿até o momento, o país estava sendo capaz de assumir o financiamento de sua economia e de evitar o recurso a uma ajuda externa¿. Em nome do governo, o ministro das Finanças, Fernando Teixeira dos Santos, defendeu a necessidade ¿urgente¿ e ¿imperiosa¿ das medidas para ¿afastar todas as dúvidas e incertezas¿ sobre a capacidade do país de reduzir sua dívida pública a 2% do PIB até 2013, como ficou acertado.

Santos alertou que a rejeição do plano vai agravar as condições de financiamento do país e criar dificuldades adicionais. ¿Duvido que consigamos superá-las sozinhos¿, ressaltou . Ele já havia alertado para uma crise política que colocaria Portugal nos braços da ajuda externa.

¿O fato de o governo reconhecer que o país está à beira de formalizar um pedido de ajuda externa para acalmar os mercados é suficiente para dar a dimensão do drama ao qual este governo nos conduziu¿, respondeu Manuela Ferreira Leite, ex-ministra das Finanças do país. ¿É de nossa responsabilidade pôr um fim ao declínio inexorável para o qual nos conduziu este governo¿, insistiu