Título: Tombini: vai piorar
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 26/03/2011, Economia, p. 19

As expectativas inflacionárias vão continuar a piorar, deixando ainda mais tensa a relação entre o governo e o mercado financeiro. Foi o que deixou claro ontem o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, durante evento do setor bancário, em São Paulo. Para ele, enquanto a escalada de preço das commodities (mercadorias com cotação internacional) não cessar, as remarcações de preços continuarão a incomodar o bolso do brasileiro e os analistas permanecerão apostando no pior cenário.

Tombini também alertou para o nível de incerteza na economia internacional. Como o Japão foi devastado por catástrofes naturais e a Europa está à beira de uma nova crise, desta vez liderada por Portugal, não se sabe até agora de que forma e em que intensidade o Brasil será afetado. De maneira didática, o presidente do BC classificou como natural a da deterioração das expectativas diante do choque de commodities e da elevação dos preços dos alimentos. Segundo ele, circunstância como essa torna ¿desafiadora¿ a análise de dados.

Ele voltou a chamar a atenção para o descompasso entre a oferta e o consumo, fator que também está se refletindo diretamente na percepção de inflação. ¿Quanto mais intenso e duradouro for o choque, maior o tempo necessário para que o processo de ajustamento das expectativas esteja completo¿, explicou. Ou seja, Tombini indicou que o mercado é igual a São Tomé, só acredita vendo. Portanto, os analistas só mudarão as suas projeções para baixo quando a inflação começar a convergir para patamares mais condizentes com o centro da meta ¿ 4,5% ao ano ou 0,37% mensal.

Maristella Ansanelli, economista-chefe do Banco Fibra, endossou o discurso do presidente do BC e não vê como as expectativas melhorarem . ¿Os indicadores de inflação seguem muito elevados e os sinais para os próximos meses são preocupantes¿, avaliou. Nesse cenário, Tombini resistiu, mas acabou por admitir que o mau humor do mercado vai continuar e que não há muito o que fazer enquanto o consumo for superior à oferta de alimentos e as commodities continuarem a subir. ¿Impactos residuais ainda estão por vir. É possível que vejamos alguma piora marginal na percepção dos agentes sobre a inflação¿, disse.

Meirelles fez lobby, segundo WikiLeaks Próximo das eleições de 2006, o então presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, pediu aos Estados Unidos que atuassem junto ao governo do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que fosse dada à instituição mais independência, segundo documentos secretos do Departamento de Estado norte-americano. Em conversa com diplomatas dos EUA em 9 de agosto de 2006, Meirelles prometeu pressionar nos bastidores por mudanças regulatórias que criassem um ambiente de investimento melhor para empresários norte-americanos no Brasil. O documento, obtido pelo WikiLeaks e repassado à Reuters, pode se tornar embaraçoso para Meirelles, que se prepara para assumir o comando da Autoridade Pública Olímpica (APO).