Título: Quadrilha presa por tráfico internacional
Autor: Rizzo, Alana
Fonte: Correio Braziliense, 30/03/2011, Brasil, p. 6

Polícia Federal derruba organização que usava o Brasil como caminho para o envio do pó branco à Europa. Três brasileiros e dois paraguaios acabaram presos na operação especial Uma operação da Polícia Federal (PF) desvendou ontem um esquema internacional de tráfico de drogas que usava o Brasil como rota de passagem de cocaína para a Europa. Foram cumpridos 10 mandados de prisão em Campinas (SP), São Paulo (SP), Ponta Porã (MS) e na África do Sul, além de sete ordens de busca e apreensão. Até o início da noite, tinham sido presos três brasileiros e dois paraguaios. Durante as investigações, a PF apreendeu 200kg de cocaína.

As apurações começaram há um ano. Segundo o trabalho policial, a quadrilha encomendava a droga no Paraguai, trazia para o Brasil e depois a remetia para países da África e da Europa, especialmente a Itália. O grupo mantinha em cada um desses locais pontos de apoio para os negócios ilegais. Para o transporte, eram usados contêineres de navios ¿ carregados com farinha de trigo ou óleo de canola, simulando uma exportação ¿ ou mulas (pessoas contratadas para carregar a droga).

¿O objetivo da organização era exportar cocaína. Não importava como, se seriam usadas mulas ou contêineres. O que eles queriam era uma forma rápida e barata¿, afirma o chefe da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da PF em São Paulo, delegado Guilherme de Castro Almeida. ¿O Paraguai recebe muita cocaína que vem da Colômbia e da Bolívia e grande parte dessa droga acaba entrando no Brasil. Como a gente sabe, o país acaba funcionando como um corredor do tráfico internacional, seja para alcançar a Europa ou o oeste da África¿, diz.

O principal alvo da operação era um paraguaio que atuava como intermediador da droga no Brasil. Era de sua responsabilidade negociar a mercadoria com fornecedores e compradores. O estrangeiro morava há mais de 15 anos em Campinas e tinha documentos falsos. Casado com uma brasileira, o traficante tem dois filhos no país. Ele foi entregue à Justiça brasileira. Na África do Sul, a polícia prendeu N. P. Y. G., um ex-militar cubano acusado pelos Estados Unidos de espionagem e tráfico de drogas. Ele mantinha contatos frequentes com brasileiros e paraguaios com o propósito de aumentar o fluxo de vendas de drogas na região.

Agenciamento Em agosto de 2010, um contêiner-tanque foi apreendido na cidade portuária de Port Elizabeth, na África do Sul, onde estavam escondidos 166kg de cocaína. Quatro meses depois, um italiano, radicado no Brasil e também integrante da quadrilha, acabou preso no aeroporto de Salvador (BA), onde transportava cerca de 9kg da droga em um fundo falso da bagagem. A PF acredita que o homem era o responsável pelo agenciamento das mulas, já que a grande maioria era da Itália. O passaporte da União Europeia ajudava a driblar a fiscalização naquele continente. Segundo a PF, as informações colhidas durante as investigações também ajudaram os policiais portugueses a recapturar dois brasileiros que tinham sido presos naquele país, após serem acusados de enviar 1,7 tonelada de cocaína para lá.

Os integrantes da organização criminosa serão indiciados por tráfico internacional de drogas. As informações colhidas no Brasil foram transmitidas para a Polícia Judiciária de Portugal. Batizada de Mapinguari, a operação teve o apoio das polícias portuguesa, paraguaia e sul-africana. O nome é uma referência à lenda amazônica na qual uma criatura coberta por um longo pelo vermelho tem habilidades para fugir dos humanos.

COOPERAÇÃO COM A BOLÍVIA O Ministério da Justiça firmou ontem acordo de cooperação no combate ao tráfico de drogas com a Bolívia. Os dois países vão começar um projeto-piloto de controle da redução de cultivo da coca, nos moldes das ¿campanhas de erradicação¿ de maconha feitas em parceria com o Paraguai. O tratado, conforme adiantou o Correio em janeiro, prevê também a participação dos Estados Unidos. A meta é aumentar a fiscalização nas fronteiras com a Operação Sentinela ¿ a ação prevê, desde 2009, ações conjuntas nessas regiões entre a PF, a Força Nacional, a Receita Federal, as Forças Armadas, a Polícia Rodoviária Federal e as policias estaduais ¿ e ainda financiar investimentos em recursos humanos e em tecnologia no país vizinho.