Título: Queda do dólar acende sinal amarelo na indústria brasileira
Autor: Aliski,Ayr
Fonte: Gazeta Mercantil, 29/05/2009, Brasil, p. A4

Brasília, 29 de Maio de 2009 - A indústria brasileira está preocupada com a maior concorrência de produtos importados e teme que essa competição torne-se ainda mais acirrada com a recente depreciação do dólar. Conforme a pesquisa Sondagem Especial sobre Comércio Exterior, divulgada ontem, 33% dos consultados indicaram que a concorrência entre seus produtos e similares importados "aumentou" ou "aumentou muito" em 2009. A pesquisa foi apresentada ontem pelo economista-chefe da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco. Para ele, a atual situação do câmbio, na faixa de R$ 2,00 por dólar, já "acendeu o sinal amarelo" de preocupação e exige maior intervenção oficial para evitar prejuízos à produção nacional.

A competição de produtos importados no mercado nacional preocupa a CNI. Segundo Castelo Branco, há o receio de que possa ocorrer competição desleal, pois ainda há altos estoques mundiais. Segundo o economista, como o mercado brasileiro teve retração menor do que os de economias ricas e de outros países emergentes, há o risco de o País tornar-se alvo prioritário para a venda de estoques armazenados, mesmo que sob parâmetros desleais de competição, como preço abaixo do custo de produção. Por isso defende cuidados não apenas na derrubada de barreiras comerciais contra produtos brasileiros, no Exterior, como atenção redobrada sobre o cenário nacional. "É necessário que a gente esteja bastante atento nas exportações, mas também no mercado doméstico", disse. Sobre a recente desvalorização do dólar, Castelo Branco avalia que o governo poderia ser mais ousado nas ações cambiais, ou seja, comprando mais moeda estrangeira para evitar maior apreciação do real, que ontem fechou a R$ 2,01.

A pesquisa divulgada ontem colheu opiniões de 1.307 empresas entre os dias 1º e 27 de abril deste ano, envolvendo todos os segmentos industriais. A ideia foi obter dados sobre três questões: grau de uso de insumos importados, a competição com produtos trazidos do Exterior e o impacto da crise nas estratégias de exportação das empresas brasileiras. A pesquisa apurou que insumos ou matérias-primas importadas tem 12% de participação de toda oferta industrial brasileira. Atualmente, 54% das empresas industriais utilizam itens importados em sua produção, frente 39% auferidos em 2005.

Outro patamar

Em abril, 12% dos empresários consultados informaram que pretendiam aumentar o uso de itens importados na sua produção. Parcela de 62% apontaram estabilidade, enquanto que 26% indicaram que iriam reduzir o uso de itens importados. Castelo Branco destaca que essas projeções foram feitas quando a cotação do dólar estava em outro patamar, próximo de R$ 2,30, e que os resultados poderiam ser diferentes atualmente, por conta do dólar para cerca de R$ 2,00.

Quanto aos efeitos da crise econômica sobre as exportações, 84% dos consultados indicaram queda na demanda externa e 7% responderam que houve escassez ou encarecimento de crédito para exportação. Para driblar a crise, 60% disseram que pretendem buscar novos mercados e 51% afirmaram que vão buscar reduzir custos e obter ganhos de produtividade.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 4)(Ayr Aliski)