Título: J. P. Morgan coloca o Brasil entre os melhores "emergentes"
Autor: Patrícia Nakamura
Fonte: Gazeta Mercantil, 28/09/2004, Mercados & Finanças, p. B-2

O endurecimento da política monetária brasileira, com elevação da taxa básica de juros, contribuiu para melhorar o grau de confiança do mercado internacional na decisão de investimentos em mercados emergentes. "O Brasil tomou a decisão correta ao atacar o risco de alta de inflação", afirmou Stuart Schweitzer, managing director e estrategista de mercados globais do J. P. Morgan Private Bank, um dos responsáveis no banco em alocação de recursos ao redor do mundo.

O executivo está no País para encontros com investidores brasileiros (em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre) - clientes do J. P. Morgan que possuem o equivalente a US$ 3 milhões, aproximadamente, livres para investir, segundo estimativas do mercado. Estão sob a gestão do private banking do Morgan cerca de US$ 276 bilhões, em todo o mundo. O número de clientes não foi revelado. Entretanto, calcula-se que o Brasil representa aproximadamente 30% dos negócios do private banking da instituição na América Latina; o México tem uma participação semelhante.

De acordo com o executivo, o Brasil está na lista dos países emergentes que possuem as melhores condições para atrair capital externo. "O País, bem como a América Latina, tem se beneficiado do bom momento econômico atual. Mesmo os momentos de desaceleração, nos últimos meses, não chegaram a ser uma fonte de preocupação, mas sim de promessa para o futuro", disse. Além do Brasil - onde os preços dos papéis estão "baratos, mas não tanto quanto antes" -, Schweitzer citou a Coréia do Sul (onde as ações ainda têm espaço para valorização) e a Rússia, apesar das preocupações dos investidores com a consolidação da democracia local. "A China também se mostra um interessante campo para negócios, no momento em que se converte ao capitalismo".

Neste ano, o J. P. Morgan aconselhou os fundos de pensão norte-americanos a aumentarem a aplicação de seus recursos em mercados emergentes para um patamar "um pouco acima do normal". Segundo o estrategista, as aplicações deveriam ser elevadas de 5% para 7% dos recursos totais dos fundos. Nos cálculos do mercado, isso pode representar até 3% de papéis brasileiros na composição do investimento total do fundo. Por outro lado, ainda de acordo com especialistas, investidores brasileiros possuem, em média, pouco mais de 30% de seus ativos aplicados no exterior. "Não se trata de proteção, mas de uma estratégia de investimentos", disse um consultor.

O banco também apontou a Europa e o Japão como boas opções para investidores. "As empresas européias estão passando por ajustes drásticos, que podem trazê-las de volta ao lucro". De acordo com o estrategista, enquanto o crescimento do Produto Interno Bruto do continente ficou em 1,3% no primeiro semestre, o lucro por ação das principais empresas atingiu 20%, no mesmo período. "O Japão também passa por uma fase de corte de gastos, as fábricas estão fechando unidades não lucrativas e, mesmo com a demanda interna estagnada, há possiblidade de bons negócios para investidores. "

De acordo com Schweitzer, a alta do preço do petróleo e as eleições nos Estados Unidos não deverão influenciar negativamente os mercados a médio prazo. "O preço do barril deve se estabilizar, até o final do ano, entre US$ 40 e US$ 42", aposta. "Acredito que, se (o candidato pelo partido Democrata) John Kerry vencer as eleições presidenciais, haverá uma boa surpresa aos mercados, assim como ocorreu quando Luiz Inácio Lula da Silva assumiu a presidência. Caso George W. Bush permaneça no cargo, a condução da política de juros continuará na direção certa", disse Schweitzer, que trabalhou no Federal Reserve na década de 1970.

Entetanto, ele afirmou haver alguma "cautela" em relação aos investimentos em mercados emergentes. Citou os elevados gastos públicos e os "exagerados" impostos brasileiros como barreiras para os estrangeiros. Também demonstrou um "certo receio" com a moratória argentina. "Esperamos que resolva as pendências com seus credores".