Título: A disputa pelo que sobrou do malufismo
Autor: Sérgio Prado e Wallace Nunes
Fonte: Gazeta Mercantil, 05/10/2004, Política, p. A-8

PT e PSDB lutam pelos 12% de votos que o ex-prefeito obteve domingo para conquistar a prefeitura. Tucanos e petistas lutam pelo que restou do capital político de Paulo Maluf (PP), na tentativa de vencer a disputa pela prefeitura de São Paulo, no segundo turno. Mesmo derrotado, o ex-prefeito obteve 12% dos votos dos 7,7 milhões de eleitores da capital e é visto como o fiel da balança no dia 31. Por isso, tanto José Serra (PSDB) e Marta Suplicy (PT) intensificam o diálogo para conquistar o apoio formal dos adeptos do malufismo paulistano.

"Conversas neste sentido já estão sendo feitas e ainda esta semana com certeza vamos concluir este leque de acordos", disse Ítalo Cardoso, presidente municipal do PT. Ele refere-se também aos contatos com o PSB, da ex-prefeita Luiza Erundina, que ficou com 3,3% da preferência do paulistano, no primeiro turno.

Marta reafirmou ontem que gostaria de contar com os eleitores do PDT, de Paulo Pereira da Silva, embora o partido seja de oposição ao PT na esfera nacional. O líder sindical ficou com 1,4% dos votos. Há também a tentativa de aproximação com o PMDB, partido com inegável estrutura e que esteve com Erundina no primeiro turno.

O empenho do PT em costurar alianças com estes segmentos do eleitorado faz todo sentido. Afinal, a votação de Marta ficou distante 7,7% de Serra, na votação de domingo. A prefeita teve 35,5% dos votos e o ex-ministro da Saúde 43,5%.

Ontem, o presidente municipal do PP, Celso Russomano revelou que Paulo Maluf está inclinado a fazer uma declaração de apoio à Marta para ser usada nos programas de rádio e televisão. Esta decisão vem na linha do desejo explícito da direção nacional da legenda, que tem acordo com o PT em Brasília e é pressionada pelo Planalto para tomar uma decisão rápida.

Mas Russomano diz que o partido está dividido, pois aqui em São Paulo, há ressentimentos em relação aos petistas, em função dos ataques sofridos em campanhas passadas. Por isso, haveria uma resistência grande de o PP e Maluf subirem no palanque de Marta. Inclusive a prefeita já disse mais de uma vez que não os queria lá. Pelo sim pelo não, o presidente do PT José Genoino afina o discurso em favor das alianças. "Queremos o voto de todos os eleitores que votaram em Maluf".

Enquanto isso, os tucanos seguem numa linha paralela a busca por um acordo com o PP. Ontem vice-presidente do PSDB, o deputado federal Aloysio Nunes Ferreira conformou as negociações. "Por que não? Eu não faço política na base da exclusão", disse à agência Reuters. "O Paulo Maluf é uma liderança muito personalista, que tem um capital de votos muito alto."

Além das articulações com lideranças partidárias, Marta pretende licenciar-se da prefeitura para dedicar-se à campanha. E vai reforçar a tentativa de seduzir as classes média e alta, segmentos em que Serra foi melhor no primeiro turno. (PSDB) na votação de domingo passado. "Faltou voto de abastado", avalia a prefeita petista.

"Agora, gostaria que as pessoas das regiões mais abastadas percebessem que tudo que foi feito nesta cidade foi feito com um olhar para os mais carentes, (mas) que beneficia os que têm mais também. A população mais abastada não foi abandonada", diz Marta. Nas entrelinhas, pode-se deduzir faz referência a dois túneis que ligam as regiões Oeste e Sul, além da revitalização do Centro.

Os petistas pretendem ainda reforçar as realizações de Marta nos últimos quatro anos. A atenção especial será nos setores de transporte e educação. Considerada o ponto fraco de seu mandato, a Saúde entra como promessa do que será realizado, se a prefeita conquistar a vitória. Estes pontos estiveram na campanha do primeiro turno, mas agora Marta terá mais tempo na televisão e rádio, a ser usado pelo marqueteiro Duda Mendonça.

Por sua vez, Serra pretende reforçar a imagem de bom administrador aos eleitores paulistanos. Fala em mostrar o que precisa melhorar na cidade. "Há muita coisa para ser feita, não apenas na área da saúde. Mas, sem dúvida, vamos começar pela área da saúde", afirma em seu site.

O comando do PSDB pretende aprofundar ainda a fragilidade da gestão petista na Saúde. Outro viés do segundo turno é a promessa de que programas como o bilhete único e os Centros Educacionais Unificados (CEUs) serão mantidos por Serra, se for ele o escolhido para governar a cidade.

Se vai dar certo, só as urnas dirão. Até lá, petistas e tucanos prometem uma das disputas mais duras da história de São Paulo.