Título: Farmácias magistrais investem e ampliam a área de atuação
Autor: Iolanda Nascimento
Fonte: Gazeta Mercantil, 05/10/2004, Indústria & Serviços, p. A-11

Trabalho artesanal avança e absorve tecnologia de produção e controle. As farmácias magistrais brasileiras não são mais apenas aquelas boticas de manipulação de fórmulas dermatológicas que as caracterizaram por quase todo o século passado. Surgidas no Brasil na época dos jesuítas, que juntaram aos conhecimentos europeus as poções indígenas de cura, a maior parte delas agora alia ao trabalho artesanal a mais alta tecnologia para a elaboração de medicamentos. Estão também mais profissionalizadas e entrando em áreas antes restritas à indústria, com a manipulação de remédios para as mais diversas especialidades.

Os resultados, apesar dos poucos números disponíveis, podem ser observados na média de crescimento anual do faturamento do setor, de até 10% no final dos anos 1990 e de cerca de 3% a partir de 2002, conforme dados da Associação Nacional dos Farmacêuticos Magistrais (Anfarmag), mesmo em meio a tanta concorrência: o número de estabelecimentos cresceu de 3,1 mil em 1999 para 5,3 mil neste ano, cerca de 90% de pequeno e médio portes. Segundo a presidente da Anfarmag, Vânia Regina de Sá, há uma busca acentuada de médicos e pacientes por tratamentos personalizados. "As fórmulas são únicas, prescritas pelos médicos e de acordo com cada paciente e sua maneira de reagir aos medicamentos."

Normas rigorosas da Anvisa

O setor espera finalizar 2004 respondendo por cerca de 8% das vendas do mercado farmacêutico geral, gerando receita em torno de R$ 1,3 bilhão no País. É para mostrar os avanços que as farmácias vêm conquistando nos últimos anos que a Anfarmag inicia nesta quinta-feira, em São Paulo, a 2 edição da Farmag Expo 2004. Trata-se de uma feira em que estarão expostas as novidades em equipamentos, matérias-primas e embalagens utilizadas pelas farmácias, e que agrega também o Congresso Internacional dos Farmacêuticos Magistrais, para a troca de conhecimentos científicos.

Vânia disse que o setor deu um grande salto de qualidade a partir de 2000, com a resolução 33, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que instituiu normas rigorosas de controle de qualidade, produção, armazenamento e de equipamentos necessários para as suas operações. A maioria das farmácias magistrais teve de investir no mínimo cerca de R$ 20 mil, afirmou Vânia, para atender às exigências da Anvisa; já um novo empreeendimento requer em torno de R$ 200 mil para ser montado, entre construção e aquisição de equipamentos de produção e de controle de qualidade das fórmulas. Entretanto, os recursos aportados tanto pelas farmácias como pelos seus fornecedores ainda não foram totalmente apurados pela Anfarmag, que está iniciando um estudo para levantar informações sobre o desenvolvimento do setor nos últimos anos.

No mercado há 16 anos, a Medicativa, farmácia magistral em dois endereços na capital paulista e que avia 6 mil fórmulas por mês, teve de passar por uma reforma completa, segundo o farmacêutico e proprietário da farmácia, Natan Levy, que custou R$ 360 mil. "Além das obras no prédio e da compra de equipamentos, automatizamos todos os procedimentos, do recebimento da matéria-prima à produção e controle de qualidade. Trabalhamos com matéria-prima rastreada e tudo é acompanhado por computador."

Maior produção de equipamentos

Conforme a presidente da Anfarmag, os fornecedores de máquinas, equipamentos, embalagens e até de matéria-prima também investiram em produtos específicos para as magistrais. A Gehaka, fabricante de instrumentos de precisão com unidade em São Paulo, investiu, valor não revelado, em novos produtos para acompanhar o desenvolvimento do setor, afirmou o gerente de produção da companhia, Eduardo Per Horn. "Grande parte do aumento da nossa linha foi motivada pela demanda das farmácias", ele disse.

A empresa fabrica 12 linhas de produtos - entre balanças de precisão e equipamentos de medição de qualidade -, três delas, em vários modelos, somente para atender o setor, que responde por 20% de sua receita. Neste ano, a empresa investiu R$ 1 milhão para desenvolver seu modelo mais moderno de balança, que atenderá, principalmente, a esses estabelecimentos.

O gerente comercial do Grupo Purifarma, distribuidor nacional de matéria-prima, Alexandre Luiz de Souza, observou a mudança de perfil das farmácias com a maior demanda por insumos, antes mais comprados pelas indústrias. Souza afirmou que há uma tendência crescente de aquisição de substâncias que atendam outras especialidades, como a cardiologia, a medicina ortomolecular, a ginecologia e dermocosmetologia (de medicamentos voltados para a estética). "A linha de matérias-primas de cosmetologia cresceu de pouco menos de 10% para 25% do total de produtos que comercializamos." A empresa trabalha com 600 itens entre matérias-primas farmacêuticas e cosméticas e as farmácias magistrais respondem por 80% do seu faturamento.

Investimento em fórmulas

A Medicativa desde o ano passado, por exemplo, está atuando na área de reposição hormonal. Levy disse que a empresa investiu R$ 50 mil para introduzir a fórmula no Brasil, segundo ele já bastante utilizada na Europa e nos Estados Unidos desde os anos 1990. O trabalho de pesquisa durou um ano e meio. "Hoje, a fórmula está disponível em diversas farmácias." Os recursos aplicados incluíram marketing nos consultórios médicos.

"Tivemos de inovar para combater a estagnação do mercado farmacêutico brasileiro nos últimos anos", Levy disse, afirmando que o produto aumentou seu faturamento em 10% desde que foi lançado. "Se não fosse ele, minha receita teria caído 10%." Neste ano, com investimento menor não revelado, a farmácia lançou a Indol 3 Carbinol, uma fórmula composta de princípios ativos contidos no brócolis, na couve-de-bruxelas e na vagem, para a prevenção de câncer de mama e de próstata.

Vânia disse que as farmácias não atendem apenas as áreas que precisam acompanhamento hospitalar, como a oncologia. "O congresso vai discutir essa expansão, incluindo as áreas que começam a ser exploradas, como a geriatria."