Título: Cotação em Nova York se aproxima dos US$ 49
Autor: Bloomberg News
Fonte: Gazeta Mercantil, 20/08/2004, Energia, p. A-6

Os preços dos contratos futuros do petróleo saltaram ontem para o recorde US$ 48,70 o barril em Nova York, diante das preocupações de que as exportações iraquianas podem cair ainda mais. O temor é de que os confrontos no sul do Iraque entre as tropas dos Estados Unidos e os combatentes leais ao clérigo muçulmano xiita Moqtada al-Sadr atrapalhem os embarques.

Ontem, na Bolsa Mercantil de Nova York, o preço do óleo tipo WTI, para entrega em setembro, aumentou US$ 1,43, ou 3%, fechando a US$ 48,70 o barril, o valor de fechamento mais elevado desde que o produto começou a ser negociado em Nova York, em 1983. O prazo de validade dos contratos de óleo para entrega em setembro expiram hoje. O preço dos contratos futuros para entrega em outubro mais ativamente negociados subiu US$ 1,29, ou 2,8%, fechando a US$ 47,64 o barril.

"O preço do óleo está firmemente na zona de perigo", disse Stephen Roach, principal economista da Morgan Stanley, em Nova York, em comunicado distribuído aos clientes. Se os preços alcançarem os US$ 50 e permanecerem nesse patamar por vários meses, ficaria "na faixa de preços dos grandes choques do petróleo do passado", o que causou recessões, afirmou ele.

Na Bolsa Internacional de Petróleo, em Londres, o preço dos contratos do óleo tipo Brent, para entrega em outubro, avançou US$ 1,30, ou 3%, para US$ 44,33 o barril, o mais alto valor de fechamento desde que os futuros começaram a ser negociados, em 1988. Os preços chegaram a US$ 44,35 o barril durante o pregão.

Exportações do Iraque caem

As interrupções dos embarques para o oleoduto do sul do Iraque reduziram as exportações para cerca de 1 milhão de barris diários, ante 1,8 milhão de abril. O efeito de qualquer interrupção do suprimento global é exagerado porque a demanda usou todo o excesso de produção, segundo Boone Pickens, investidor em petróleo do Texas que previu em maio que os preços da commodity chegariam aos US$ 50.

"Quando se tem capacidade de produção, um milhão de barris começa a ficar muito importante", afirmou Pickens, que supervisiona mais de US$ 1 bilhão em investimentos em energia na BP Capital. "Se tivesse que adotar uma posição em relação à alta ou à queda, diria que os preços vão subir". Embora Pickens tenha se recusado a elevar suas projeções acima de US$ 50, disse que o seu fundo ainda está apostando em um aumento.

Ele afirmou que está esperando para ver quando os preços começam a reduzir a demanda. "Parece-me que o preço consegue avançar, a não ser que se comece a reduzir a demanda", disse. A Agência Internacional de Energia, assessora de 26 países industrializados, aumentou as suas projeções da demanda de óleo de 2004 para 82,2 milhões de barris diários no início deste mês. Atender essa demanda consome quase toda a produção mundial, disse Pickens.

Queda do crescimento

"Os atuais preços da energia, de certa forma, desaceleraram a recuperação", declarou o secretário do Tesouro americano John Snow. "Eles agem como um imposto e retiram dinheiro do bolso do povo e das empresas", disse. "Estamos enfrentando algum vento de proa, mas a economia ainda está crescendo, se expandindo e criando empregos."

O custo médio do óleo usado pelas refinarias americanas era de US$ 35,24 o barril, em 1981, segundo o Departamento de Energia. Isso é quase US$ 73 em dólares de 2004. Em 1974, o barril de petróleo custava em média US$ 9,07, o que seria cerca de US$ 34,50 hoje. Os preços subiram expressivamente naquele ano depois do embargo árabe do petróleo que se seguiu à guerra árabe-israelense de 1973.

Um auxiliar de al-Sadr disse que os habitantes do sul do Iraque incendiaram vários oleodutos e ameaçaram por fogo nos poços de óleo no Iraque, informou a agência France-Presse, citando uma entrevista da televisão Al-Jazeera. "Depois das declarações do chamado ministro de Estado iraquiano, em nome do seu governo injusto, os moradores do sul do Iraque, principalmente em Basra e Amarah, colocaram bombas em vários oleodutos e estão ameaçando pôr fogo em todos os poços de petróleo do sul", disse Sheikh Aws al-Khafagi, diretor do escritório de al-Sadr na cidade de Nasiriyah, no sul do país, segundo a France-Presse. O Iraque está exportando cerca de 1 milhão de barris de óleo por dia desde o fechamento de um dos dois oleodutos que ligam os campos petrolíferos do sul com os terminais do Golfo Pérsico, afirmou o diretor da iraquiana Organização Estatal de Petróleo e Marketing (Somo).