Título: Indústria amplia capacidade de produção
Autor: Marcos Lopes Padilha
Fonte: Gazeta Mercantil, 23/08/2004, Linha Branca, p. A-8

Aquecimento das vendas contrasta com o fraco desempenho dos últimos quatro anos. O começo de 2004 marcou a recuperação das vendas industriais de aparelhos de linha branca. No primeiro trimestre, o aumento foi de 18,62% em relação ao mesmo período de 2003. Os produtos em destaque foram as secadoras de roupas (incremento de 71% em relação ao mesmo período do ano passado) e lavadoras automáticas (alta de 57%). Aliás, apostando na reativação das vendas, os fabricantes têm investido na ampliação da capacidade produtiva.

A retomada de 2004 contrasta com o fraco desempenho das vendas do segmento ao longo de 2003, quando totalizaram 7,53 milhões de unidades, 11,51% menos que no ano anterior, mantendo a evolução negativa já registrada em 2002 (queda de 4% em relação a 2001). Não por acaso, os fabricantes vinham enfatizando as exportações, como alívio para o desaquecimento interno.

Vale lembrar que, após ter atingido pico de mais de 11 milhões de aparelhos vendidos, em 1996, as vendas despencaram para 8,21 milhões, em 1999 (declínio de 26%). Entre 2000 e 2001, foi registrada uma tímida recuperação, que elevou as vendas para 8,9 milhões de aparelhos (apenas 8% a mais que em 1999).

O declínio das vendas em 2003 foi observado em algumas das principais linhas desse segmento, como refrigeradores. A Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros) deixou de divulgar dados sobre vendas de aparelhos desde 2000. Na época, registrou-se a comercialização de 3,2 milhões de refrigeradores, bem menos que o pico de mais de 4 milhões de unidades verificado em 1996. No entanto, sabe-se que, em 2003, as vendas desses aparelhos ficaram cerca de 10% abaixo da média dos últimos nove anos.

Também as vendas de fogões no mercado brasileiro ficaram em cerca de 3 milhões de unidades, em 2003, com queda estimada de mais de 10% sobre o ano anterior. O patamar atual é igualmente inferior aos 3,7 milhões registrados em 2000 (último dado divulgado pela Eletros), após o pico de 4,4 milhões de fogões vendidos em 1996.

Comportamento distinto apresenta o mercado de lavadoras de roupas. Quando a Eletros deixou de divulgar dados sobre vendas industriais, em 2000, o mercado era de 991,8 mil aparelhos, 10% abaixo do pico de 1,1 milhão de unidades atingido em 1996. No entanto, sabe-se que as vendas dos modelos automáticos cresceram 18%, em 2003, e que as lavadoras automáticas já representariam 14% do mercado.

O mesmo se passou com os condicionadores de ar. A venda desses aparelhos pelos fabricantes instalados na Zona Franca de Manaus alcançou 1,1 milhão de unidades, em 2003, 59,1% mais do que em 2002, e 31,7% superior ao pico anterior do ano de 2000.

Já na área de fornos de microondas, as vendas industriais somaram 776,2 mil unidades, em 2003, 10,7% acima das do ano anterior. No entanto, representaram pouco mais do que metade do patamar de 1,4 milhão registrado em 1998. Aliás, somente entre 1998 e 2000, as vendas caíram mais de 50%.

Exportar para driblar a crise

Com o desaquecimento do mercado interno, a estratégia adotada pelos fabricantes de produtos de linha branca foi ampliar os embarques externos. Não por acaso, a balança comercial da indústria de linha branca fechou 2003 com saldo de US$ 275,3 milhões, o maior dos últimos anos, com crescimento de 130% em relação a 2002. O resultado foi puxado pelas exportações, que dobraram de valor, para US$ 306,6 milhões, enquanto as importações mantiveram-se estagnadas na casa dos US$ 30 milhões.

O resultado de 2003 representou uma recuperação das vendas externas do setor, pois, em 2002, tinha-se registrado superávit de US$ 119,7 milhões, com expressiva queda de 31,1% em relação a 2001. Aliás, na comparação com o pico de US$ 200,1 milhões, em 2000, o saldo de 2002 apresentou um declínio superior a 40%.

O declínio do superávit em 2002 não foi causado por um eventual aumento das importações, que, desde 1999, têm se mantido na casa dos US$ 30 milhões. Foram as exportações que diminuíram, do pico de US$ 227,8 milhões, em 2000, para US$ 150,1 milhões em 2002, uma retração de 34,1% no período. No entanto, os fabricantes passaram a se defrontar com o problema surgido em julho último, com o entrave imposto pelo governo argentino às importações de aparelhos de linha branca e televisores. Pois a Argentina responde por cerca de um quarto das exportações brasileiras de fogões.