Título: José Dirceu está a um passo de voltar para a Câmara
Autor: Sérgio Pardellas e Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Gazeta Mercantil, 26/11/2004, Política, p. A8

Se reassumir mandato de deputado, dará espaço para Rosena Sarney. O ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, anda insone. Confidenciou a amigos próximos que está sentindo-se infeliz no governo. Dos rumos da área econômica à estratégia de articulação política, nada lhe soa satisfatório. Sepultada a emenda da reeleição e quase afastada a hipótese de retomar a função de coordenador político, fato com o qual não se conforma, Dirceu começa a avaliar a possibilidade de reassumir o mandato de deputado, a fim de concorrer a Presidência da Câmara no próximo ano. " Aldo Rebelo é da cota do presidente. Não do PCdoB. O presidente já avisou. Não sai da Articulação Política. Dirceu não está satisfeito e enxerga a presidência da Câmara como alternativa", disse um deputado petista próximo a Casa Civil.

O sinal verde teria sido dado pelo presidente Lula na reunião com os ministros petistas, na segunda-feira à noite. De acordo com alguns dos presentes, o presidente teria manifestado a vontade de deslocar um ministro do PT para o cargo. E para Lula, Dirceu seria o único nome do PT capaz de acabar com a briga de foice no partido pela sucessão de João Paulo.

" Tentam vender a imagem de que a bancada petista ficaria destroçada em uma disputa para a presidência da Câmara. Mas conheço vários deputados, inclusive do campo majoritário, que não aceitariam uma imposição palaciana. É uma situação explosiva", desafiou outro petista.

Ao indicá-lo para a presidência da Câmara, a intenção do presidente é evitar que Dirceu agregue o PT ainda mais contra a política econômica comandada por Antonio Palocci. Petistas íntimos do Planalto tecem elogios ao chefe da Casa Civil. E até a esquerda do PT admite que o discurso atual de Dirceu soa muito melhor aos ouvidos dos petistas históricos do que a fala de Palocci. " Evidente que a vinda dele (Dirceu) para a Câmara daria uma chacoalhada na Casa e no próprio partido", reconheceu o deputado Chico Alencar (PT-RJ).

Mas a solução pode se transformar em problema. Com o vice-presidente José Alencar acumulando as funções de ministro da Defesa, torna-se mais poderoso ainda o cargo de presidente da Câmara - o terceiro na hierarquia da sucessão presidencial. Comandar uma das Casas do Legislativo pode até ser mais atrativo do que comandar um Ministério. Um petista histórico reconhece que, neste caso, Dirceu ficaria ainda mais fortalecido. Afinal de contas, na Casa Civil ele perdeu a articulação política, tarefa que tanto aprecia." O Dirceu faz o jogo dele. Tem muito mais controle partidário e é muito mais inteligente e maquiavélico que o deputado João Paulo. Se resolver confrontar o Planalto, Lula terá problemas", previu.

Compensação para Sarney

Outra peça no tabuleiro da reforma, seria a compensação ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP) à retirada da emenda da reeleição no Senado. A cada dia ganha força a tese do desembarque da senadora Roseana Sarney (PFL-MA), na Esplanada dos Ministérios. A operação, vista com bons olhos pelo Planalto, passaria pela filiação da senadora ao PMDB. Roseana poderia ir para o Ministério das Cidades ou Planejamento. A senadora, no entanto, afasta a hipótese de mudar de partido:

" Não existe essa possibilidade" disse, categórica.

Sobre uma eventual ida para o governo, segundo a assessoria da senadora, até o início da tarde de ontem a pefelista não havia recebido nenhum convite ou sinal do Palácio do Planalto nesse sentido.

A liderança do PFL na Câmara, entretanto, já admitiu ontem a possível saída de Roseana do partido: " Se nós fôssemos o PMDB nos sentiríamos ultrajados pelo governo porque não está sendo contemplado o partido", afirmou ontem o líder pefelista na Casa baixa do Legislativo, deputado José Carlos Aleluia (BA).

Para Aleluia, se houver uma escolha de um nome inadequado para presidir a Casa, haverá uma insubordinação parlamentar, pois não se deve enviar emissários para comandar o Poder Legislativo.

"O presidente Lula não cometerá esse erro, espero eu. Pois lhe custará muito caro" garantiu o pefelista baiano.

Na disputa pela presidência do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) ancora-se num acordo segundo o qual o PMDB se revezaria no comando da Casa. E numa declaração do presidente Lula durante jantar com partido de que "o PMDB fará naturalmente o presidente do Congresso" e no apoio de cerca de 17 peemedebistas: " Cada dia com a sua agonia. A candidatura é um direito da bancada e queremos exercer esse direito", repetiu o peemedebista.

O deputado paulista João Paulo explicou ontem pela enésima vez que não pode arquivar o projeto original, para não desrespeitar o regimento interno. Mas admitiu que nenhum líder pede o arquivamento, pois o debate sobre a reeleição está sendo usado para outros fins, que não quis especificar.