Título: O problema maior é não poder ajudar
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 09/04/2011, Mundo, p. 29

Entrevista - Embaixadora Maria Auxiliadora Figueiredo Presa em sua própria casa há oito dias, a embaixadora brasileira na Costa do Marfim, Maria Auxiliadora Figueiredo, relatou ao Correio momentos de angústia experimentados nas últimas semanas no país. Sua residência, localizada no bairro Cocody, principal foco de resistência na capital, Abidjan, abriga 25 pessoas ¿ 11 brasileiros ¿ que não tiveram como voltar para seus domicílios por conta da violência nas ruas. Embora otimista, a diplomata mineira se emocionou ao falar sobre os brasileiros que não teve como ajudar e sobre a expectativa de voltar ao Brasil, na próxima semana.

Há quantos dias a senhora está sem sair de casa? Estou em casa há oito dias. Não tenho visto muita coisa, mas tenho escutado muitos tiros, foguetes e boatos.

Quantas pessoas estão com a senhora? Somos 25. Onze são brasileiros. Há três crianças, que uma vizinha mandou para cá porque a casa é mais segura ¿ ela e o marido permanecem na residência ao lado. Há também sete militares do destacamento do Exército brasileiro, que têm feito nossa segurança. Eles avisam quanto temos de descer para o abrigo. Além dos empregados marfinenses e seus familiares, que não tiveram como voltar para suas casas.

A senhora tem familiares aí? Não. Eu havia mandado minha mãe, que está doente, para Portugal antes das eleições presidenciais, em novembro. Com o agravamento da situação, ela foi para o Brasil.

Há mantimentos para todos? Sim, tem até para mais pessoas, porque estava esperando que outros brasileiros viessem para cá. As duas funcionárias do corpo diplomático estão em suas casas, onde também têm suprimentos.

Como está a situação dos brasileiros no país? Os piores momentos já passaram. Muitos deixaram o país, outros estão no quartel do Exército da França, aguardando para voltar ao Brasil. Eram cerca de 200 brasileiros, entre comerciantes e religiosos, mas a maioria já foi embora.

O que tem sido mais difícil? (pausa) O problema maior é não poder ajudar. Saber que existe um brasileiro em situação difícil e não ter como resgatá-lo porque não dá para entrar naquela área no momento. Precisei dizer para que ficassem em casa. Mas, graças a Deus, não aconteceu nada com ninguém. Tínhamos uma brasileira grávida de 7 meses, que conseguiu sair do país. Os casos mais preocupantes foram resolvidos.

Quando a senhora retorna ao Brasil? Semana que vem eu retorno, de férias. Assim que liberarem os voos comerciais e chegar meu substituto, eu vou. (RT)