Título: O deboche de Durval
Autor: Alves, Renato
Fonte: Correio Braziliense, 13/04/2011, Opinião, p. 16

O delator da Operação Caixa de Pandora, Durval Barbosa, se recusa a ingressar no Programa de Proteção à Testemunha, do Ministério da Justiça, como sugere a Polícia Federal. Quer continuar em Brasília, sob escolta dos colegas da Polícia Civil do Distrito Federal. É fato que Durval corre risco de morte em virtude das denúncias feitas contra políticos e empresários e do volume de informações ainda não reveladas sobre esquemas de corrupção na capital do país. Mas também é fato a sua culpabilidade.

Durval fez o que fez para tirar proveito próprio, enriquecer ilicitamente, chantagear aliados e inimigos políticos, amenizar as penas dos inúmeros crimes que confessa ter cometido. Não à toa, seu grupo coleciona carros importados, apartamentos, lojas e tem até helicóptero, avião e lancha. Delegado aposentado, ele é tão ou mais perigoso do que muitos que entregou. E abrigar um condenado deveria ser missão ingrata para a instituição, tão bem paga e com profissionais tão bem qualificados. Mas Durval tem e sempre teve o apoio de dezenas de policiais civis, mesmo sem autorização legal, para segurança e outros serviços.

Tanto que, mesmo após a abertura da Caixa de Pandora, Durval nunca deixou de ir a festas, frequentar caros restaurantes, fazer compras nas lojas mais chiques de Brasília. Nem de se encontrar com figuras suspeitas, algumas delas citadas no inquérito da PF em que ele seria a principal testemunha.

Condenado a 15 anos de cadeia por corrupção, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e dispensa de licitação e sendo protegido pelo Estado? O cidadão de bem não tem essa prerrogativa. Nem os bandidos comuns, que, diante de tantos delitos, estariam esperando a decisão da Justiça trancafiados em uma cela da Papuda. E, caso tivessem o que dizer, seriam levados sob escolta a um tribunal.

Os efetivos do Corpo de Bombeiros e da Polícia Militar do DF não são ampliados pela alegada falta de recursos. O Estado deixa de proteger a sociedade por falta de dinheiro. Com isso, as autoridades não deveriam colocar policiais para vigiar um malfeitor em vez de cuidar de trabalhadores e seus familiares.

Se realmente quisesse contribuir com a Justiça, Durval já teria copiado todos os seus bombásticos vídeos e documentos e os entregue a pessoas idôneas, fora do meio político, para serem divulgados se atentassem contra sua vida. Mas não é isso que Durval faz, nem os oportunistas que o cercam.