Título: A Alpargatas pode produzir Havaianas fora do Brasil
Autor: Patrícia Nakamura
Fonte: Gazeta Mercantil, 01/12/2004, Indústria & Serviços, p. A-9

Empresa terá parceiro externo para agilizar internacionalização. A São Paulo Alpargatas estuda terceirizar uma parte de sua produção de sandálias Havaianas no exterior, justamente para abastecer parte da demanda externa, hoje totalmente atendida pelas fábricas brasileiras. "Ainda não definimos qual o volume a ser produzido pelos terceirizados nem onde a fabricação será concentrada. Vamos estudar as melhores opções, levando em consideração custos de matéria-prima e questões logísticas", disse o diretor presidente da empresa, Márcio Utsch. "Mas devemos lançar mão dessa estratégia para ganhar escala e rapidez para atender ao mercado externo". De acordo com o executivo, a empresa conta com auxílio de consultorias para analisar as propostas.

As parcerias de produção devem ser formalizadas nos próximos 12 meses e fazem parte dos planos da empresa para acelerar a internacionalização de suas marcas (além da Havaianas, deverão ser foco de investimentos no exterior Topper e Rainha, ambas de material esportivo). "O plano é investir em nossas marcas e não em fábricas lá fora", disse. O executivo afirmou que a empresa ingressou recentemente no mercado de Hong Kong e que vai fortalecer a Topper no Japão, onde a marca está fortemente ligada ao futebol de salão.

Nos nove primeiros meses do ano, as exportações foram responsáveis por 6% do faturamento da Alpargatas, o equivalente a 7,6 milhões de pares - sendo 6,4 milhões de Havaianas - mais que o dobro dos 3,6 milhões exportados no mesmo período do ano passado, segundo o presidente da empresa.

A Alpargatas também deve realizar investimentos em seu parque fabril no ano que vem. Estão previstos aportes de aproximadamente R$ 35 milhões em melhorias na produção em todas as áreas de negócios, de acordo com Utsch. A produção diária das Havaianas, hoje em 500 mil pares por dia, deverá crescer entre 15% e 20%.

Mercados premium

Entre janeiro e setembro deste ano, a produção de tênis da Alpargatas (que engloba as marcas próprias Topper e Rainha, além de Timberland e Mizuno, produzidas sob licença) alcançaram 6,8 milhões de pares, pouco abaixo dos 7 milhões fabricados no mesmo período em 2003. "Trocamos volume por marca. Preferimos concentrar esforços em produtos que ofereçam mais tecnologia, com maior valor agregado", afirmou o presidente da empresa.

Na linha Mizuno, por exemplo, foram lançados neste ano 23 produtos que custam, no varejo, acima de R$ 260, contra apenas oito modelos novos em 2003. Com a marca Rainha, foram 11 lançamentos de janeiro a setembro, o mesmo número de todo o ano passado. A participação de todas as marcas no mercado é de 9,1%, segundo dados do Ibope.

DNA da marca

Dona de 80% do mercado de chinelos de borracha - e de 38% do mercado geral de chinelos, de acordo com o Ibope - a Alpargatas deverá investir no ano que vem 11% do seu faturamento líquido em ações de marketing, o mesmo percentual aplicado em 2003. "Vamos investir também em novos modelos, para consolidar a liderança, além de lançar outros produtos com o DNA da marca, como bonés, por exemplo", disse.

Nos nove primeiros meses do ano, a empresa obteve receita bruta de R$ 800 milhões, 22% superior em relação ao mesmo período do ano passado. Contribuíram para o desempenho a alta de 150%, em dólares, nas exportações; crescimento de 26% nas vendas de Havaianas; e 29% de acréscimo nas vendas de têxteis industriais. O lucro líquido saltou de R$ 45,1 milhões para R$ 69,5 milhões.

Utsch evitou comentar a entrada da Grendene no mercado de capitais. A empresa gaúcha, que lançou ações na Bovespa há um mês, viu o preço de seus papéis PN caírem 5,04%. No mesmo período, as ações da Alpargatas se desvalorizaram 12%. "É bom ter outro referencial de mercado", limitou-se a dizer.