Título: Governo libera verbas para conquistar o PMDB
Autor: Sérgio Pardellas
Fonte: Gazeta Mercantil, 06/12/2004, Política, p. A-7

Palácio do Planalto joga pesado para assegurar os membros da sigla, dona de 76 caderias na Câmara e 22 no Senado. A ação da Polícia Federal nos últimos dias pode ter enfraquecido a ala do partido favorável à permanência do PMDB na base que dá sustentação ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Congresso. Mas o Palácio do Planalto joga pesado para segurar o aliado, dono de 76 cadeiras na Câmara dos Deputados e 22 no Senado. Às vésperas da convenção do PMDB que pode decidir pelo desembarque do partido do governo, o Palácio do Planalto abriu os cofres para os parlamentares peemedebistas do País.

Uma consulta realizada por este jornal ao Sistema de Acompanhamento Financeiro do Governo Federal (Siafi) revelou que o PMDB foi contemplado com a maior parte dos recursos pagos nos últimos 15 dias: R$ 4,3 milhões. Nesse período, o partido conseguiu superar inclusive o PT, partido do governo, e o PTB, até então campeões na liberação de emendas individuais parlamentares. O PT recebeu apenas R$ 900 mil e o PTB R$ 2,7 milhões. Coincidência ou não, a torneira começou a ser aberta para o PMDB três dias após a reunião da Executiva do partido definindo a data da convenção nacional do partido. Até o dia 11 de novembro PMDB havia recebido R$ 7,4 milhões em emendas. Na mais recente atualização do Siafi, dia 26 de novembro, as emendas liberadas ao partido já somavam R$ 11,7 milhões. Se for considerada a liberação das emendas desde o início do ano o PMDB figura num honroso terceiro lugar. Atrás apenas do PT (R$ 17,7 milhões) e PTB (R$ 11,8 milhões). Em quarto aparece o PP (R$ 7,8 milhões). O que menos recebeu até agora foi o PDT. Foi agraciado com apenas R$ 300 mil. Ontem, o ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, disse confiar na permanência do PMDB na base governista. Para ele, a existência de peemedebistas que defendem a independência em relação ao governo central nunca impediu a participação efetiva do partido na definição das políticas públicas. "A posição de alguns governadores pela independência já é antiga mas o governo federal sempre trabalhou para ter o PMDB na sua base de apoio, inclusive em ministérios, que é uma forma do partido participar dos rumos do governo", avaliou Aldo Rebelo.

Enquanto assiste à liberação de emendas pelo governo, o PMDB governista se une ao Planalto no sentido de adiar a convenção. Uma das alternativas é convocar a Executiva na próxima quarta. Até anteontem, os governistas contabilizavam a maioria na Executiva. Ontem, o clima era de apreensão por conta da repercussão da ação da Polícia Federal na Confederal, empresa de transportes de valores que é ligada ao ministro das Comunicações, Eunício Oliveira. A cúpula do partido e preferiu não comentar o assunto.

Bastidores

Além do líder no Senado, Renan Calheiros (AL), Eunício e o presidente do Senado, José Sarney (AP), nos bastidores, um dos maiores articuladores pelo adiamento da convenção é o senador peemedebista Ramez Tebet (MS). Ele tenta mediar o consenso. Há dois dias se reuniu com o deputado Michel Temer (SP), presidente nacional do partido e o deputado Geddel Vieira Lima (BA). Para ontem à noite, agendou conversas com o senador José Sarney e o líder do partido no Senado, Renan Calheiros. Embora publicamente seja defensor da tese da entrega dos cargos, Tebet quer se cacifar para um ministério ou um retornar à presidência do Senado.

A ala governista do partido articula o recurso à Executiva pois sabem que dificilmente lograriam êxito no voto a voto da convenção do dia 12. Embora a maioria dos estados defenda a permanência no governo Lula, pelos cálculos da cúpula do partido, juntas, as regionais favoráveis ao desembarque somariam mais votos. São exemplos os diretórios do Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo e Paraná.

No Senado, 20 parlamentares peemedebistas assinaram a carta pedindo à presidência do partido que adie a convenção nacional. Na Câmara dos Deputados, o número de assinatura divulgado pela ala governista da legenda é de 49. De acordo com a liderança do PMDB, esse número varia de 30 a 37 deputados, se contadas as promessas de assinatura. A parlamentar responsável por recolher as assinaturas na Câmara é a deputada Rose de Freitas (ES). 12.

kicker: Os "cofres" da União foram abertos às vésperas da convenção nacional

kicker2: O ministro Aldo Rebelo disse estar confiante na permanência da legenda no governo