Título: Uma alternativa para o petróleo
Autor: R. Fernandes
Fonte: Gazeta Mercantil, 10/12/2004, Opinião, p. A3

O gás já é realidade para o uso veicular, mas barreiras precisam ser removidas. O aumento dos preços da gasolina e do diesel não pode ter surpreendido ninguém. Isso já se avizinhava pelas constantes subidas de preços do petróleo; era apenas uma questão de tempo. As maiores reservas de petróleo existentes no mundo estão localizadas em regiões econômica e politicamente instáveis, sujeitas a freqüentes conflitos. O Brasil, como todas as nações, mesmo as mais poderosas, está vulnerável à permanente instabilidade gerada pelas incertezas quanto à disponibilidade e preços dessa commodity. Nos últimos 12 meses, a gasolina aumentou 43% e o diesel 62% nos EUA, segundo o DOE, órgão americano equivalente ao Ministério de Minas e Energia. No Brasil ainda não se chegou a tanto. Embora estejamos próximos de atingir a auto-suficiência em petróleo, o crescimento da economia pode postergar essa data, além de continuarmos sensíveis às flutuações de preços, ao sabor dos humores da Opep. É fato que diversos países têm adotado estratégias, especialmente os mais desenvolvidos, na tentativa de criar uma blindagem de proteção para as respectivas economias em questão de energia. Isso tem sido feito buscando-se substituir os derivados de petróleo por combustíveis alternativos, cuja disponibilidade e preços possam estar sob controle dos governos locais. Quanto a isso, o Brasil não é uma exceção. Alguns programas já estão em andamento, como é o caso do biodiesel. Entretanto, ainda há muito a se fazer para viabilizar algumas dessas opções, o que não é o caso do gás natural. O gás já é uma realidade para o uso veicular, mas algumas barreiras ainda precisam ser removidas. O Brasil dispõe hoje de reservas provadas de gás, cuja duração estimada é de 20 anos. O potencial de reservas desse combustível é de 657 bilhões de metros cúbicos. O gás natural tem sua disponibilidade e preços inteiramente sob controle interno, não havendo nesse caso nenhuma ingerência de entidades como a Opep, que fortemente afetam o mercado de petróleo mundial. E, ainda, o seu uso representa uma importante opção ambiental, reduzindo as emissões veiculares de gás carbônico entre 20% e 25% relativamente à gasolina, além de outros gases. Todavia, o gás natural, hoje, ainda ocupa uma posição tímida na matriz energética brasileira, de 7,5%, comparativamente aos 24% registrados em âmbito mundial. Em utilização automotiva, a frota de veículos a GNV é ainda modesta, apresentando um percentual de 4,15% dos 19 milhões de veículos leves circulando no País e muito poucos desses veículos pesados. Já se avançou bastante na tecnologia e regulamentação para o uso de gás natural em veículos automotivos, os quais dispõem hoje de segurança e qualidade, equivalentes à melhor tecnologia empregada no caso de combustíveis líquidos convencionais. Esta é a hora de superar barreiras, estimulando o uso do GNV na substituição de derivados de petróleo por meio da aplicação de políticas públicas transparentes. O consumidor precisa se sentir seguro de que os custos do GNV se manterão competitivos frente a outros combustíveis. A disponibilidade do gás natural precisa ser estendida a todos os potenciais usuários, pela expansão das redes de distribuição e a instalação de maior número de postos de abastecimento. Os sistemas tributários federal e estadual precisam ser revistos no sentido de estimular a conversão de veículos, cujo custo possa ser elevado, como ocorre no caso de frotas de ônibus e caminhões. O estímulo à aquisição de veículos que usam gás natural deve ser reforçada. É preciso quebrar resistências dos que buscam manter o status quo para que seja possível progredir para um horizonte menos incerto em termos econômicos e ambientais no Brasil. kicker: O Brasil dispõe de reservas provadas de gás com duração de 20 anos