Título: Mantega descarta forte alta de juros
Autor: Lívia Ferrari
Fonte: Gazeta Mercantil, 10/09/2004, Nacional, p. A-5

Ministro diz que crescimento ultrapassa 4% este ano e a expansão futura está assegurada. O ministro do Planejamento, Guido Mantega, descartou a possibilidade de elevações drásticas na taxa básica de juros (Selic). "Não vamos influenciar o Copom (Comitê de Política Monetária, do Banco Central); eles vão ser suaves nas suas decisões", disse o ministro, que participou ontem, no Rio, do Mini-Fórum Nacional, do Instituto Nacional de Altos Estudos (Inae).

O Copom se reúne na próxima semana para decidir uma possível alteração na taxa de juros, que hoje está em 16% ao ano. Mantega preferiu não fazer comentários sobre a reunião da próxima semana, mas minimizou o impacto de uma eventual alta nos juros sobre o crescimento imediato da economia.

"Com certeza vamos ultrapassar a taxa de crescimento de 4% este ano. É o primeiro passo na rota do crescimento sustentado. A expansão está assegurada", disse o ministro. Ele prefere, contudo, ser "prudente nas expectativas para não animar muito o mercado".

O ministro reconheceu que houve elevação dos índices de inflação nos últimos meses, mas afirmou que "a taxa permanece dentro da meta, da margem, e está sob controle", apesar do resultado do IGP-DI (Índice Geral de Preços do Mercado), divulgado ontem, acima das previsões.

O índice registrou alta em agosto de 1,31% ante a expectativa do mercado de 0,92%. No entender de Mantega, o resultado reflete pressões pontuais de preços administrados, das commodities e da variação das cotações do petróleo. O ministro disse não acreditar em alta generalizada de preços, "dentro da estrutura produtiva existem freios naturais contra reajustes". Para ele, "daqui para a frente a tendência é de queda dos índices mensais da inflação".

O ministro comemorou o crescimento da produção industrial pelo quinto mês consecutivo. O resultado de julho, divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrou elevação de 9,6% na comparação com mesmo mês do ano passado. Mas em junho a indústria havia crescido 13% em relação a igual mês do ano anterior.

"Houve uma desaceleração, mas não dava para manter os 13%, pois teríamos um desequilíbrio na estrutura produtiva" avaliou, minimizando a redução de 1,1% na produção de bens de capital em julho, após quatro meses de expansão.

"Trata-se de um ajuste técnico", disse Mantega, lembrando que o setor de bens de capital foi o que registrou o maior crescimento de produção no acumulado do primeiro semestre.

Segundo o ministro do Planejamento, a economia está trabalhando com uma capacidade instalada maior. "Isso significa que ela está diluindo custos e aumentando produtividade. Então, as empresas podem trabalhar praticando preços estáveis ou até menores", disse.

Mantega lembrou que a proposta orçamentária para 2005 prevê gastos nominais de R$ 10,4 bilhões em infra-estrutura, valor 40% maior que os R$ 7,4 bilhões previstos em 2004. Ainda assim, ele voltou a defender a aprovação das Parcerias Público-Privadas (PPPs) como alternativa para ampliar o investimento em infra-estrutura e garantir o crescimento sustentado nos próximos anos.

"Na semana que vem vamos ter um esforço concentrado em Brasília com os parlamentares que irão votar matérias importantes do governo, entre elas as PPPs.

A opinião pública brasileira já se conscientizou da necessidade de aprovar o mais rapidamente possível a lei das Parcerias Público-Privadas", disse o ministro do Planejamento, que espera a aprovação ainda este ano. O especialista em contas públicas, Raul Velloso, acredita que o governo terá dificuldades em aprovar a lei das PPPs antes das eleições municipais. Para ele, não surpreende o crescimento de 40% no orçamento de investimentos da União em infra-estrutura em 2005 na comparação com 2004.

"A elevação na previsão de gastos deve-se principalmente ao aumento recorde nas receitas tributárias", disse Raul Velloso, destacando que em 2005 o governo terá o efeito integral da alta nas alíquotas do PIS e Cofins.

kicker: Copom se reúne na próxima semana para decidir nova taxa Selic, hoje em 16%