Título: Queda dos juros não é único determinante do crescimento
Autor: Dimalice Nunes
Fonte: Gazeta Mercantil, 14/09/2004, Nacional, p. A-5

Não há pressão inflacionária que justifique aumento da taxa, diz Dirceu. O ministro da Casa Civil, José Dirceu, defendeu um "acordo nacional" que mobilize a sociedade, empresários e trabalhadores, em torno de uma agenda para o crescimento sustentado da economia. "Para que nós possamos reduzir os juros precisamos criar as condições políticas. E eu acredito que criar condições políticas é o acordo nacional", disse o ministro, que participou ontem do 1 Fórum de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), em São Paulo.

O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Horácio Lafer Piva, também aposta no crescimento sustentado. Para Piva, o Brasil está "condenado" ao crescimento, mas não consegue planejar metas a longo prazo para garanti-lo rapidamente. Ele defendeu o crescimento sustentado por meio da exportação, de estímulo ao investimento e do corte de gasto público.

O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Luiz Marinho, propôs durante o Fórum o controle da inflação não mais por meio do aumento dos juros, mas de choque de investimento capaz de estimular a produção. "Não podemos aceitar a lógica de que o aumento dos juros controla a inflação. O crescimento atual da economia se deu por meio de um enorme sacrifício e queremos sustentar esse crescimento", disse Marinho. O sindicalista disse que se o Banco Central (BC) do Brasil optar pela elevação dos juros para controlar a inflação o Brasil pode cair numa armadilha e ver o crescimento econômico paralisado.

Dirceu ressaltou a importância das reformas para impulsionar o crescimento e torná-lo sustentável. "O país está preparado para a reforma sindical, que antecederá a trabalhista", disse, acrescentando também que há maturidade dos dirigentes sindicais para as reformas.

Segundo o ministro, não há pressão inflacionária que justifique aumento de juros porque os preços que vêm pesando no índice são de alimentos e preços administrados, que tem oscilações e não são capazes de comprometer a meta de inflação. Dirceu defendeu que a sociedade debata o problema dos juros. "Temos que tirar esse véu de proibição", disse.

O ex-ministro da Fazenda, economista Luiz Carlos Bresser Pereira, defendeu no Fórum a reforma do BC. "Não no sentido que aumentar sua independência, pois ele já tem bastante, mas em principalmente outros dois pontos". O primeiro deles seria a responsabilidade da autoridade monetária pelo emprego, aos moldes do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano). "O BC deveria, como nos Estados Unidos, ser responsável, além do controle da inflação, pela geração de emprego", disse. O outro ponto de mudança defendido pelo economista é o que ele chamou de "doença da indexação da Selic pela Selic". "Em nenhum país do mundo é assim".

Dirceu também considera que o BC já é autônomo e tem tomado decisões autônomas. "Em poucos países no mundo, numa situação eleitoral, a autoridade monetária se reúne e sobe os juros. Não vejo como o país possa ter dúvida da autonomia do BC. Ela é real, ainda que não institucional."

Autonomia do BC no futuro

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, defendeu a institucionalização da autonomia do BC "num futuro próximo". Ele também descartou mudanças na política econômica, ao afirmar que "o maior desafio hoje, para nós, é perseverar na manutenção das políticas fiscal e monetária". Segundo ele, o uso da capacidade instalada é elevado, mas não justifica alarme, "desde que os investimentos venham".

Quanto à autonomia do BC, Palocci disse que a formalização deva ocorrer de forma simples, com mandatos e atribuições colocadas de forma clara e sem grandes discussões e mudanças jurídicas.

O presidente eleito da Fiesp, Paulo Skaf, defendeu a idéia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de ampliar a composição do Conselho Monetário Nacional (CMN) para a entrada de empresários e representantes dos trabalhadores. "Queremos participar das discussões, não só comentar depois que as decisões já foram tomadas", disse. "A ampliação é fundamental." Skaf confirmou ainda que em sua audiência com Lula, há duas semanas, o assunto esteva na pauta.

Quando questionado sobre quais são suas expectativas para a reunião do Copom, que começa hoje, Skaf disse que prefere aguardar a decisão. "Defendo inclusive que as reuniões sejam bimestrais para falar menos do assunto."